Há uma narrativa em vigor
afirmando que ou recursos da Rouanet são usados para enriquecer artistas e
também de forma política, em benefício de apoiadores do governo da vez. Não
concordo!
Trata-de se uma Lei Federal
de 1991, editada durante o governo de Collor, que versa sobre o financiamento
público de atividades culturais e artísticas com a participação de empresas
privadas, cujo modelo se assemelha aos adotados por muitos países.
É claro que há gente
desonesta que se aproveita da Rouanet e que deve responder pelos seus ilícitos,
mas isso não é a regra.
A Rouanet financia muita
coisa que a gente nem sabe. Por exemplo, na Orquestra Sinfônica de Piracicaba
têm Rouanet, no Engenho Central de Piracicaba tem Rouanet, na restauração de
prédios históricos da cidade de Itu tem Rouanet. Isso pra ficar só no nosso
universo regional, porque tem financiamento da Rouanet no Brasil todo. Tem
Rouanet no restauro do Museu do Ipiranga, o maior museu brasileiro, tem Rouanet
na criação do Museu do Amanhã, no Rio, do Museu da Língua Portuguesa em SP, tem
Rouanet na atual exposição das obras de Van Gogh e por aí vai.
O que ocorre é que, sob o
falso discurso de que artistas vivem ricamente por conta da Rouanet, o atual
governo cuidou de acabar com esse tipo de financiamento, adotando sucessivas
medidas para impedir o acesso e a justa remuneração por esse meio público.
Recentemente, o cachê do artista por sua atuação em um projeto foi fixado em 3
mil reais. Parece-me que a ideia é a de aniquilar a boa arte, ou seja, a
atividade artística genuína, que desperta no expectador uma visão crítica das
coisas.
O empate político é duro, é
“briga de cachorro grande”, como se diz, mas os briguentos hão de ter a
consciência de não prejudicar o país em suas contendas: a cultura e a arte de
um povo constituem uma de suas maiores riquezas e precisam ser preservadas com
a mesma intensidade com que se deve preservar a água, as florestas e os
animais.
Sem a nossa cultura, não
perderemos a nossa vida, como ocorreria se ficássemos sem água, mas perderemos
algo que talvez seja ainda pior: a nossa razão de viver.