Histórias unem pessoas que
buscam ajuda na entidade
O primeiro contato com o
álcool geralmente ocorre na adolescência e muitas vezes é visto como um rito de
passagem. Alguns vão conviver harmonicamente com a bebida alcoólica, mas para
muitos, esta relação será conturbada. O excesso acaba interferindo na
profissão, nas relações familiares e nas amizades.
Foi o que aconteceu com
Laura*. A jovem conta que começou a beber ainda aos 13 anos e, em pouco tempo,
viu o álcool tomar uma dimensão cada vez maior em sua vida, ao ponto de começar
a beber ainda pela manhã.
“Com o tempo, toda festa que
eu ia eu bebia. Passou mais um tempo, eu comecei a beber antes da festa,
durante a festa e depois. Eu não conseguia estudar, não conseguia focar nas
coisas que eu precisava focar e eu vi que o álcool estava virando um problema
na minha vida”, relembra Laura.
A presença do álcool foi
avassaladora também para Torres*. O primeiro contato com as bebidas alcoólicas
foi logo aos 12 anos.
"Aos 15 anos, eu já bebia
todo final de semana. Aos 25 anos, eu bebia praticamente todos os dias à noite.
Aos 32 anos eu já bebia pela manhã. Entre os 30 e 32 anos, começaram minhas
internações por alcoolismo. O alcoolismo vai parando todas as áreas da vida. a
área profissional, a área afetiva, a área espiritual. Vai abandonado todo o
contato que eu tinha com uma força maior, natureza, com esporte. A gente vai
largando a parte boa da vida e se dedicando a se afundar no alcoolismo”.
Irmandade
Embora com uma grande
diferença de idade, as histórias de Laura e Torres se cruzaram em uma das
unidades dos Alcoólicos Anônimos (AA), na zona sul do Rio de Janeiro. Ali
conheceram outras pessoas com o mesmo problema. Através dos encontros, no que
chamam de irmandade, foram se abrindo e largando a bebida. Hoje deixaram
totalmente de consumir álcool.
“Eu me perdi completamente.
Foi olhando no espelho e não sabendo mais quem eu era que eu pensei que eu
precisava tomar uma atitude. Eu vi no site dos Alcoólicos Anônimos e no site
tem doze perguntas. Tá escrito que se você responder a quatro perguntas, você
pode ter algum problema com o álcool. Eu gabaritei”, conta Laura.
Há 25 anos no AA, Torres diz
que a admissão do problema é um passo importante. “Quando a chave vira, quando
a admissão do alcoolismo é completa, quando eu entendo que perdi o controle da
minha vida para o álcool, e eu posso não beber um dia de cada vez, como meus
companheiros fazem. A chave vira, a mente abre”
O Alcoólicos Anônimos,
entidade criada nos Estados Unidos na década de 1930, é uma porta sempre aberta
para quem deseja largar o álcool. No Brasil, são 76 anos de atividade, tendo
como uma das principais regras o anonimato. Ninguém pergunta o nome ou a
profissão de quem chega. Cada um pode adotar um apelido e o comparecimento é
voluntário. Mas o vínculo que se forma entre os membros da irmandade é muito
forte. Quando alguém sente que está propenso a voltar a beber, liga para um dos
companheiros e pede ajuda, e sempre a recebe.
Vice-presidente nacional do
AA, a psicóloga Gabriela Henriques conta que a entidade está sempre aberta em
centenas de endereços no Brasil para ajudar, de forma gratuita, quem precisa.
“A partir do momento que a
pessoa entende que tem uma dificuldade no uso com a bebida alcoólica, ela pode
procurar o Alcoólicos Anônimos participando
de uma reunião, indo ao grupo, pedindo ajuda, que é o propósito primordial
do AA, que é estender a mão ao alcoólico que ainda sofre”.
Uma das portas de entrada para
buscar ajuda é a página da entidade na internet, onde é possível saber a
localização do AA mais próximo e até mesmo conversar com alguém pelo WhatsApp.