O
Papo de Colunista de amanhã, 17, estreará uma nova figura. Arte-educadora,
escritora, militante do movimento negro e artesã, Aniete Abreu há 15 anos veio
de São Paulo, de onde é natural, para a cidade de Tietê, com seu filho Xavier
Abreu, à época com 02 anos. Filha de Manderley Francisca Passarelle Abreu e
Aylor Prisco Abreu, falecidos, Aniete conta um pouco da sua trajetória ao GNTC.
De
início, Aniete trabalhou em vários lugares pela cidade de Tietê, como em
supermercados e até lava rápido. Foi na Oficina Cultural “Maestro Orlando
Silveira”, no entanto, que conheceu o Mestre Herculano de Moura Marçal (in
memorium), rei da umbigada e responsável por disseminar a cultura que os
antepassados africanos trouxeram para o Brasil, contribuindo para a perpetuação
da tradição.
Ao
conhece-lo, Aniete enxergou a necessidade de preservar a cultura do batuque da
umbigada, razão pela qual desenvolveu oficinas de batuque na Oficina Cultural e
no CRAS do Bairro São Pedro, nas quais permaneceu até o ano de 2.016. “Uma
experiência sem precedentes”, relata, acrescentando que as oficinas
renderam várias apresentações em eventos de outras cidades.
Foi
em 2.013, porém, que começou a explorar outro ponto forte seu: as bonecas
Abayomi. Tratam-se de bonecas negras artesanais, feitas a partir de sobras de
pano reaproveitadas, apenas com nós, sem uso de cola ou costura. “Elas eram
feitas em navios negreiros, onde as mães negras escravizadas usavam pedaços de
tecidos para fazê-las”, explica a artesã.
Com
isso, passou a trabalhar com artesanato sustentável.
“É
sustentável porque Tietê é um forte polo da indústria têxtil, então uso apenas
resíduos têxtis para confeccionar minhas bonecas, tudo doado pela empresa
Preguistê, da Maira Andreza”, disse Aniete.
As
bonecas ganharam tamanha importância em sua vida, que deram nome à personagem
principal do seu primeiro livro infantil: “Abayomi: A menina de trança”,
publicado pela editora “Hanoi”, com apoio da sua amiga Raquel Bazellotto, a terapeuta
ocupacional Domenica Almeida e a jornalista Stella Mathias.
“A
escrita sempre foi presente em minha vida, mas o livro surgiu em um momento em
que vivi forte depressão, iniciada em 2.018”, relatou a escritora. “Quando me
recuperei, escrevi o livro como desabafo, em apenas 04 horas, dois anos mais
tarde”, complementou.
O
livro foi lançado em janeiro de 2.022. Na história, a menina da trança, de nome
Abayomi, acorda certo dia na escuridão, pois o Sol se escondeu de todos, entristecido
pelo comportamento da Humanidade. Para salva-lo, será preciso plantar o último
girassol da terra, que se encontra na cidade de Tietê. Por sua aventura, a
pequena Abayomi conhece personagens icônicos da cultura tieteense, como Itamar
Assunção e Cornélio Pires, além de tradições como o batuque e moda de viola.
Atualmente, Aniete desenvolve oficinas culturais na clínica “Espaço Integração”, da Aline Borelli Alonso, localizado na Rua dos Expedicionários, nº 370, em Tietê. Lá, ela ensina a fazer bonecas Abayomis, cadarços sustentáveis e sabonetes artesanais, além de ensinar sobre desenhos e simbologias afro-brasileiras, por meio do “Projeto Afrobetizando”, e realizar oficinas de escrita.
E
não contente com tudo isso, Aniete planeja a criação de um projeto para lá de
especial, que buscará incentivar crianças, adolescentes e até mesmo adultos a
aprenderem a andar de bicicleta.
Ela
conta que quando se mudou para Tietê, em 2.006, precisava de um meio de
locomoção e acabou optando por usar bicicleta, o que se transformou, no fim, em
um verdadeiro estilo de vida. “Uso a bicicleta para tudo”, pontua.
“Comprei
uma bike na Asa Cycle, do Alex Ferreira, coloquei uma cadeirinha para o meu
filho e ia com ele para a escola, mercado, trabalho e assim por diante. Um
tempo depois, notei muito ganho de qualidade de vida, sem falar no custo-benefício”, disse Aniete. “Naquela
época, não tinham pessoas com bicicleta, fiquei conhecida por isso na cidade”,
acrescentou.
No
Papo de Colunista, Aniete buscará resgatar as origens da cultura afro-brasileira,
de valores sociais e da história, materializada em tradições, costumes
cotidianos por vezes, sem nem se imaginar. Não deixe de acompanhar.