O Ministério da Saúde anunciou, hoje (20), que doará ao menos dez milhões de doses de vacinas contra a covid-19 para nações de baixa renda, por meio da aliança internacional Covax Facility, conduzida pela Organização Mundial de Saúde (OMS), bem como para países vizinhos.
A iniciativa foi detalhada
há pouco, pelo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, e pelo embaixador Paulino
Franco de Carvalho Neto, que está respondendo interinamente pelo Itamaraty.
Segundo eles, o presidente da República, Jair Bolsonaro, já assinou uma Medida
Provisória (MP) autorizando o Poder Executivo federal a doar os imunizantes em
caráter de cooperação humanitária.
Segundo Queiroga, é possível
que, além das 10 milhões de doses iniciais, mais 20 milhões de doses sejam
doadas posteriormente, totalizando ao menos 30 milhões de unidades da vacina. A
efetivação da doação dependerá da manifestação de interesse e anuência de
recebimento do imunizante pelo país beneficiado.
“Guiados pelo princípio da
solidariedade, favoreceremos operações juntos ao mecanismo Covax, de forma a
permitir que as vacinas cheguem aqueles que mais necessitam”, disse Queiroga.
Já o ministro-interino das Relações Exteriores detalhou que, "graças ao
avanço e ao sucesso da campanha nacional de vacinação", o Brasil decidiu
apoiar países da América Latina, Caribe e África, "com significativa
doação de doses".
Queiroga garantiu que a
iniciativa não comprometerá a estratégia de imunização da população
brasileira. “Gostaria de indicar que as doações a serem efetivadas pelo
governo brasileiro não comprometerão nossa bem-sucedida estratégia de imunização,
incluindo a distribuição de doses de reforços para todos os públicos, para
todas as faixas etárias que, eventualmente, forem incluídas em nosso Programa
Nacional de Imunizações.”
O ministro da Saúde também
destacou que o enfrentamento à pandemia exige a cooperação entre
países. “Sabíamos que as vacinas eram a esperança para conter o
caráter pandêmico da covid-19. Como todos sabem, [no Brasil] chegamos ao
fim de 2021 com números que atestam o sucesso da estratégia diversificada do
governo de assegurar o acesso da população brasileira aos imunizantes. Com o
avanço da vacinação [no país] foi possível reduzirmos em mais de 90% o número
de óbitos e de casos da doença em comparação ao pico da pandemia, em abril de
2020. [Mas] é importante recordar que, neste momento, alguns países registram
uma nova onda de infecções, com preocupante aumento no número de casos, em
especial devido à variante Ômicron. Apesar do reconhecimento da imunização
extensiva como um bem público global, apenas 5,2% da população de países de
baixa renda receberam ao menos uma dose da vacina. Noventa e oito países ainda
tem menos de 40% de cobertura vacinal. Quarenta e um não chegam nem mesmo a
10%. Só estaremos seguros quando todos estiverem seguros.”
De acordo com o Ministério
da Saúde, mais de 381 milhões de doses de vacinas contra a covid-19 já
foram distribuídas aos estados e municípios brasileiros. Destas, mais de
315 milhões de doses já foram aplicadas, de maneira que, segundo Queiroga, mais
de 90% do público-alvo apto a ser vacinado já recebeu ao menos uma dose dose do
medicamento e mais de 80% deste mesmo universo de pessoas estão
completamente imunizados.
"Acho que estamos muito
alinhados com a própria OMS, que preconiza que devemos ampliar o acesso à
população que ainda não recebeu a primeira dose. Muitas vezes, há um anseio
para que avancemos na dose de reforço, para atingirmos outras faixas etárias,
mas o mundo precisa de vacinas para quem não recebeu sequer uma dose",
acrescentou Queiroga.
Em um vídeo exibido durante
o anúncio, a diretora-geral-adjunta para Acesso a Medicamentos e Produtos
Farmacêuticos da OMS, Mariângela Simão, apontou a desigualdade entre os
países no acesso às vacinas como um problema para evitar o surgimento de novas
variantes do novo coronavírus. "Um dos maiores desafios continua sendo a
enorme inequidade existente no acesso às vacinas. Este ambiente favorece o
surgimento de variantes. Estima-se que, no continente africano, apenas um em
cada quatro trabalhadores da Saúde está completamente vacinado. A meta da OMS
era que cada país tivesse alcançado um mínimo de 40% de cobertura vacinal até o
fim deste ano. E 98 países certamente não vão alcançar esta meta. Portanto,
este é um momento em que a solidariedade entre países é mais importante que
nunca", disse Mariângela ao apontar o Brasil como "um dos
poucos" países de renda média/alta a doar imunizantes ao Mecanismo de
Acesso Global a Vacinas contra a Covid-19 (Covax).