A suspensão de compras de carne bovina do Brasil pela China, que vigora há pouco mais de um mês e meio, pode vir a reduzir o preço do produto para os consumidores locais, na hipótese do cenário persistir, segundo avaliação feita por César de Castro, especialista em agronegócio do Itaú BBA.

Os embarques de carne à China vieram a ser suspensos em 04 de setembro, seguindo protocolo firmado por ambos os países na hipótese de registro de casos da doença conhecida como “vaca louca”.

Os primeiros reflexos da ausência dos chineses no mercado interno brasileiro vêm sendo sentidos, com a desaceleração dos preços da arroba de boi, além dos prejuízos causados aos pecuaristas e frigoríficos.

De acordo com o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada – Cepea da Esalq/USP, o preço da arroba chegou a R$272,55 na última terça-feira, 19, sendo que entre junho e julho o preço chegou a R$322.

A Ministra da Agricultura, Tereza Cristina, se dispôs a ir à China negociar a retomada das exportações, porém, novos elementos passaram a ser levados em consideração desde o surgimento dos casos de “vaca louca”, como a crise energética, os desajustes econômicos decorrentes do caso Evergrande e a menor evolução do PIB no terceiro semestre.

Os chineses eram responsáveis pela exportação de cerca de 100 mil toneladas de carne bovina mensais e, agora, o dilema parece ser a manutenção de animais em confinamento ou a desova da carne para o mercado interno, o que levaria à queda do preço do produto

“Se fosse um período que o produtor poderia segurar o animal no pasto, como foi da outra vez, em 2019, final de safra, um período que ainda não tem tanto confinamento. Mas agora não, se segura esse animal o prejuízo aumenta. Ou porque aumenta o custo ou porque o preço cai, ou os dois. Então ele acaba tendo de desovar, o frigorífico também não tem muita alternativa de curto prazo, não tem um mercado externo que consiga absorver 100 mil toneladas no mês”, explicou Castro.

Assim, a persistência do cenário atual deve fazer com que os preços caiam, favorecendo, enfim, os consumidores brasileiros.

“A carne já está proporcionalmente cara em relação ao preço do boi, se a gente olhar os últimos dias. Mas isso acontece, não necessariamente as coisas andam juntinhas. Agora é a hora que os frigoríficos que sofreram nos últimos dois anos, de terem de comprar boi caro e não ter habilitação para a China, tirarem um pouco a diferença. (...) Pode cair mais e acho que a carne não vai se sustentar se o boi continuar caindo. Isso tende a chegar ao consumidor, mas chega bem menos”, prosseguiu.

A Associação Brasileira de Indústrias Exportadoras de Carnes – Abiec não comentou ainda sobre o assunto.