Dom Pedro de Alcântara Francisco
Antônio João Carlos Xavier de Paula Miguel Rafael Joaquim José Gonzaga Pascoal
Cipriano Serafim de Bragança e Bourbon, ou apenas D. Pedro I, nasceu no Paço
Real Quinta de Queluz em 12 de outubro de 1798 e faleceu no mesmo Paço em 24 de
setembro de 1834. Foi o quarto filho de D. João VI e de D. Carlota Joaquina, de
um total de nove, no espaço de treze anos.
Interessa-me, neste breve texto, a
fase brasileira de D. Pedro, iniciada com a vinda da família real ao Brasil em janeiro
de 1808, após deixar Portugal forçada por tropas invasoras francesas, encerrada
com a Proclamação da Independência.
O príncipe Pedro de Alcantara aportou
ao Brasil com pouco mais de nove anos. Deixar Lisboa, “uma das mais belas e
ricas cidades da Europa”, para viver no Rio de Janeiro, em 1821 “mesquinha
cidade americana a que aportava a corte portuguesa”, olhada com má vontade
pelos integrantes da comitiva, não poderia fazer feliz a família real. Segundo
o viajante inglês John Luccock, que aqui viveu dez anos “...no Rio de Janeiro dos anos
iniciais do século XIX, excetuado o quadro da natureza, com a floresta por
assim dizer às portas, e alguns escassos melhoramentos realizados em poucos
anos, entre os quais o aqueduto e o jardim do Passeio Público, o espetáculo que
logo se deparava o visitante era o de cenas de descuido e sujeira, mesclada de
ostentação aborrecida e esfarrapada” (A Vida de Dom Pedro I,
Octávio Tarquínio de Sousa, José Olympio Editora, RJ, 1972, Tomo I, 49).
O infante D. Pedro se afeiçoou, porém,
ao novo país. À medida em que crescia “Ia ficando um rapaz, sob certos aspectos
o rapaz que nunca deixaria de ser, na mais característica da mocidade”. “Aos
quinze anos de idade ‘S.A. continua a parecer bem, só um pouco mais magro, mas
muito crescido’, escrevia D. Maria Genoveva do Rego e Matos ao Conde de Arcos,
de ordem do Príncipe. Na carta, D. Pedro mandava pedir com ‘grande empenho’, ao
governador da Bahia, a nomeação do Desembargador Henrique de Melo Coutinho de
Vilhena para uma das Varas do Cível ou Crime da Relação da cidade” (ob. cit.,
72.).
Além de aprender a trabalhar a madeira
no torno, (nutria preferência pela variedade gonçalo-alves, semelhante
ao jacarandá), estudava música, desenho, pintura. Se a educação não foi
primorosa como a de D. Pedro II, o príncipe D. Pedro não era rústico, iletrado,
ignorante. Ainda criança aprendeu o latim com o frei Antônio de N. Sra. de
Salete, “para que pudesse entregar-se diariamente ao poema de Virgílio e
encontrar na viagem de Eneias analogia com a de seu pai?” (ob. cit., 41). Teve
aulas de francês com o cônego Renato Pedro Boiret, mais tarde professor de D.
Pedro II, e de inglês com o padre Guilherme Paulo Tilbury e o irlandês João
Joyce. Era fluente na língua italiana.
“Em 1821, tinha D. Pedro vinte e
quatro anos de idade. Formoso, ardente, audaz e varonil, afeito a durezas e
intempéries, era perito em todos os exercícios físicos e montava
admiravelmente. De sua mãe herdara a intrepidez e a dedicação a ideais e às
suas amizades. Era um impulsivo. Capaz de praticar feitos extremos de heroísmo
e de generosidade; por vezes, também, suscetível de cair nos extremos opostos”,
dele escreve o historiador J. Pandiá Calógeras, nas notas biográficas
encontradas em Formação Histórica do Brasil (Cia. Editora Nacional,
SP, 1967, pág. 84).
Para a proclamação da Independência contribuiu
de forma decisiva a esposa, Arquiduquesa D. Maria Leopoldina Josefa de
Habsburgo, filha de D. Francisco I, Imperador da Áustria, nascida em Viena no
dia 22 de janeiro de 1797, com quem se casou à distância, por meio de
representantes diplomáticos, em 13 de maio de 1817. D. Maria Leopoldina faleceu
jovem, no Rio de Janeiro, em 11 de dezembro de 1826, com 29 anos, na ocasião em
que dava à luz ao sétimo filho. Permaneceram casados 9 anos.
Segundo João Camilo de Oliveira Torres,
“...em 1822 soube D. Pedro I compreender o seu papel na história, lançar as
bases de um Império na América, pela utilização das forças democráticas do
século, para dar vida e consistência às velhas tradições da realeza europeia” (A
Democracia Coroada, Vozes, RJ, 1964, 410).
Os historiadores são unânimes ao
creditarem a D. Pedro I e a seu filho D. Pedro II, a façanha de conservarem o território
brasileiro unitário, ao passo que a América Espanhola se fragmentava em pequenas
repúblicas. Para isso contribuiu a Constituição de 25 de março de 1824,
“oferecida e jurada por Sua Majestade o Imperador”, cujo Art. 1º. determinava a
unidade de todos os brasileiros, como artífices da nova Nação.
Nas comemorações do bicentenário registrou-se
a falta de homenagens à altura do merecimento de D. Pedro I, de D. Leopoldina, de
D. Pedro II, dos irmãos José Bonifácio, Antônio Carlos, Martin Francisco de
Andrade e Silva, de Joaquim Gonçalves Ledo, de Evaristo da Veiga, e de tantos
outros, cuja inteligência e coragem conduziram à Independência e contribuíram
para o reconhecimento do novo Império, pelas nações amigas da América e da
Europa.