(Para minha saudosa avó Catarina Amélia Pietrobom)

Gosto de trovões porque me lembram minha avó. Quando eu era criança e o tempo fechava, minha avó corria p'ra minha casa segurando um terço e morrendo de medo. Para ela, que nasceu e viveu muito tempo no sítio, um temporal representava uma séria ameaça. Sabia de várias histórias de gente que "morreu de raio", e alguns ela até conheceu. Meu avô vinha junto com ela. Fazia cara de durão, de quem não tinha medo de nada e só estava lá para acompanhar a esposa, mas acho que tinha ainda mais medo. Às vezes acabava a luz e tudo ficava sinistro. Minha mãe acendia duas ou três velas e quem quisesse ir ao banheiro tinha de carregar uma consigo. Ficávamos todos juntos, na sala, a esperar, a TV desligada (senão poderia queimar). Conversávamos pouco e em voz baixa para poder ouvir o temporal, prestar atenção nos relâmpagos, e torcíamos para que tudo acabasse bem. Juntos nos sentíamos protegidos daquela incontornável ameaça e isso reforçava nossos laços de união. Acho que minha avó temia por si e por todos nós, e o seu intuito era de também nos amparar. E assim se seguiram muitas e muitas das noites chuvosas da minha infância. Meus avós lá em casa até a chuva passar, todos nós nos sentindo mais amados, reconfortados uns pelos outros, na intensidade da tempestade que caía, em humana compensação.

"À benção, vó, que a chuva já passou!"