A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) atualizou ontem (11) suas recomendações para a prevenção da covid-19 no retorno às aulas, acompanhando novos critérios de autoridades sanitárias internacionais e sociedades médicas nacionais diante da variante Ômicron. As orientações do Grupo de Trabalho de Retorno às Atividades Escolares Presenciais da Fiocruz podem ser consultadas em uma nota técnica que inclui protocolos em temas como isolamento, testagem e suspensão de aulas. O grupo recomenda que o ensino seja preferencialmente presencial.
"Sob forte recomendação
de organismos internacionais e de setores do Judiciário, entre outros,
recomenda-se que esse retorno seja presencial, uma vez que os prejuízos
sociais, emocionais, educacionais, sanitários e econômicos já não permitem a
manutenção do modelo remoto como preferencial para o processo de aprendizagem
das crianças e adolescentes", afirma a nota técnica.
Ao introduzir o texto, os
pesquisadores destacam que a variante Ômicron já representa mais de 95% dos
genomas de SARS-CoV-2 sequenciados no país, e que sua característica mais
marcante é a alta transmissibilidade, o que também implica maior potencial de
transmissão domiciliar. Citando dados dos Estados Unidos e do Brasil, os
pesquisadores acrescentam que, com o predomínio dessa cepa, aumentou o registro
de casos de covid-19 entre crianças e adolescentes, aparentemente sem aumento
percentual de internações e mortes.
Isolamento
O documento contextualiza
que autoridades sanitárias dos Estados Unidos e Europa estabeleceram critérios
mais curtos para isolamento e quarentena com a chegada da variante Ômicron, e
que as Sociedades de Pediatria do Rio de Janeiro e de São Paulo
também atualizaram seus critérios diantes da nova cepa.
A Fiocruz orienta que, para
adultos ou crianças com casos leves ou moderados de covid-19 são necessários 10
dias de isolamento a contar da data de início dos sintomas. Mesmo assim, o
retorno deve estar condicionado à ausência de sintomas, febre ou uso de
antitérmicos nas últimas 24 horas. Caso outro teste seja realizado no quinto
dia e o resultado seja negativo, esse tempo de isolamento pode ser reduzido
para sete dias.
Os casos assintomáticos
confirmados precisam de cinco dias de isolamento a contar da data do teste
positivo, desde que um novo teste no quinto dia tenha o resultado negativo.
Caso o resultado desse novo teste seja positivo, o isolamento se estende para
sete dias.
A fundação reforça que o uso
de máscara é fundamental. Para as pessoas que não puderem usar máscaras por
contraindicação médica, o protocolo muda caso testem positivo para covid-19 sem
apresentar sintomas. Nesse caso, a orientação é que repitam o teste no quinto
dia e, em caso positivo, o isolamento deve ser de 10 dias em vez de sete. Para
pessoas que não possam usar máscaras e tenham casos sintomáticos, as
orientações são as mesmas que para a população em geral.
Quando a criança ou o adulto
tiver contato com alguma pessoa infectada, a quarentena deve ser de 10 dias a
partir do contato, ou de sete dias caso um teste tenha resultado negativo no
quinto dia após o contato. Já se o teste for positivo ou houver sintomas,
aplicam-se os critérios recomendados para casos sintomáticos ou
assintomáticos.
Para pessoas que tenham
apresentado Covid-19 grave ou sejam imunodeprimidas por doença ou por uso de
imunossupressores, a recomendação é fazer quarentena de 20 dias, retornando
apenas se nas últimas 24 horas não tiver sintomas nem febre e não tiver usado
antitérmicos.
Diante da informação de um
caso positivo, os especialistas aconselham que se deve incentivar o
rastreamento de contatos e buscar a realização de testes. A suspensão de aulas
para uma turma deve ser adotada apenas em último caso e só é recomendada caso
haja três ou mais diagnósticos simultâneos confirmados, o que deve ser
informado às autoridades sanitárias e acompanhado para o rastreio de casos
relacionados. Já o fechamento da escola deve ocorrer somente em caso de
recomendação das autoridades sanitárias locais.
"Ressaltamos que o
isolamento social, a adoção do ensino remoto e a descontinuidade na frequência
à escola têm sido responsáveis pela ampliação das lacunas de desenvolvimento
psicossocial, entre outros problemas já apontados, como a insegurança alimentar
e a evasão escolar, motivos pelo qual reforçamos a necessidade de manutenção de
aulas presenciais", defende a Fiocruz.
Vacinação e testagem
Além do rastreio de casos,
os protocolos de prevenção à covid-19 das escolas devem observar a ventilação
dos ambientes, o uso adequado de máscaras, a lavagem de mãos e o distanciamento
social, lembra a Fiocruz. Esses cuidados devem ser intensificados
principalmente nos momentos das refeições, evitando realizá-las em locais sem o
devido distanciamento e ventilação.
A Fiocruz explica ainda que
a vacinação de toda a comunidade escolar tem grande relevância no controle da
transmissão do vírus, e que a vacinação dos responsáveis e profissionais da
educação também promove a proteção indireta das crianças menores de 5 anos, que
ainda não podem ser vacinadas.
"Ressaltamos, conforme
apontado em outras publicações técnicas deste Grupo, que a realização de
inquéritos para avaliação da cobertura vacinal local é fundamental para ampliar
a segurança dos que frequentam as escolas, bem como para adotar ações
educacionais para comunidades e grupos em que há maior resistência ou baixa
adesão à vacinação", diz a nota técnica.
Os pesquisadores também
destacam que os testes são uma ferramenta importante para detectar e isolar
casos, além de servirem como referência para determinar o tempo correto de
isolamento. Eles avaliam que a disponibilidade de autotestes de covid-19 pelo
Sistema Único de Saúde (SUS) também seria uma estratégia que poderia ser
utilizada para o controle das infecções no ambiente escolar, aliado à
vacinação, para ajudar a garantir a manutenção de atividades escolares
presenciais. Em caso de um autoteste positivo, porém, ainda é necessário buscar
atendimento médico.
"No Brasil, sem a
distribuição dos autotestes pelo SUS, há estimativas de que o
autoteste terá valores entre R$ 80 a até R$ 400 para venda nas farmácias.
Esses valores tornarão o autoteste inacessível para a maior parcela da
população, acirrando desigualdades e mantendo a pressão por testes nas unidades
básicas de saúde", afirmam os pesquisadores que assinam a nota técnica.
Uma ferramenta importante
apontada pelo documento é a comunicação ágil entre escolas, pais e alunos. A
Fiocruz recomenda que as escolas devem planejar um sistema rápido de informação
e vigilância da covid-19 no ambiente escolar, utilizando, inclusive, grupos de
WhatsApp, questionários ou outras formas de comunicação rápida, para que pais,
estudantes e trabalhadores da educação possam enviar a informação imediata para
tomada de decisão dos gestores.