Ainda abastecendo a maior parte do mercado, a Petrobras alertou que não renovará os contratos de fornecimento de gás natural previstos para vencer no final deste ano, com distribuidoras e grandes consumidores, e que só poderá oferecer o combustível pelo dobro do preço atual. Assim, a partir de janeiro, cerca de 70% do mercado estará sem contrato.

A Associação Brasileira das Empresas Distribuidoras de Gás Canalizado – Abegás cogita formalizar uma reclamação contra a Petrobras por abuso de poder econômico junto ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica – Cade. Isto por a estatal estar ferindo cláusulas dos termos de compromisso assinados no ano passado que poriam fim ao monopólio que há neste setor, visto que não há alternativas de novos fornecedores. Segundo o acordo, a Petrobras sairia do mercado de transporte e distribuição de gás, acabando com o monopólio.

No cenário internacional, a falta de combustível eleva os preços para importação, enquanto as empresas de produção nacional são capazes de abastecer somente 25% do mercado interno. A proposta mais vantajosa feita pela estatal prevê a comercialização do gás a quase U$20 por milhão de BTU, enquanto atualmente o valor é de aproximadamente U$11.

O gás é o principal insumo para empresas de vidro e cerâmica, além de abastecer geradores de energia. Os consumidores residenciais também sentiriam o aumento considerável na conta.

O acordo para a saída da Petrobras do ramo, chamado de Novo Mercado do Gás, anunciado pelos Ministérios de Minas e Energia e da Economia, garantiria livre acesso aos dutos de gás antes pertencentes à estatal, crescendo a oferta do insumo e, por conseguinte, reduzindo seu preço.

“Mas com venda de ativos, a Petrobras ficou sem terminal de importações da Bahia por dois anos e ficou sem gás que podia comprar de parceiros dos campos do pré-sal”, disse o Presidente da Petrobras, Augusto Salomon. “Basicamente só tem o gás que produz. Desse gás, consome 14 milhões de metros cúbicos por dia em suas atividades”, acrescentou.

Além do desinteresse das petroleiras privadas com reservas no Brasil em vender o gás, fatores que contribuem para a elevação do preço são o atraso na construção do novo gasoduto na Rússia, o aumento da demanda na Ásia e perspectiva de um rigoroso inverno. Em novembro do ano passado o preço era de U$5,27 por milhão de BTU, enquanto atualmente está por U$27,14.

A Bolívia não tem capacidade de ampliar o fornecimento para o Brasil e a Petrobrás registrou uma queda de 98,5% no lucro líquido obtido com gás no terceiro trimestre deste ano, em comparação ao trimestre anterior.

A confirmação do reajuste não foi dada pela Petrobras, mas informou que “cumprirá os contratos firmados com os diversos clientes”.