Ela viveu durante um bom tempo
de sua vida como nômade. Seu pai trabalhava em fazendas e adorava mudar de
cidades, até que um dia ele 'estacionou' definitivamente em Tietê, quando ainda
era uma menina de 16 anos, juntamente com seus 7 irmãos.
Uma mulher de fala doce e
meiga, de andar calmo, que se encantou tanto com Tietê, que logo na chegada,
combinou com um dos seus irmãos que seu o pai quisesse mudar novamente de
cidade, ambos permaneceriam por aqui.
Carrega consigo uma história
de muita luta e determinação, premiada com o sucesso. Mãe de dois filhos
Marcelo e Fabiano, Neusa Bueno Marcelo, culinarista é proprietária do
Restaurante Maggiorana de Tietê, que oferece aos clientes de centenas de
cidades que passam por aqui, uma comida de muito sabor e massas artesanais divinas,
projetando o seu Restaurante como um dos mais famosos e bem frequentados de toda
região.
E será através dela mesma que conheceremos melhor a sua história, Neusa é Gente que Entende. Eis:
"Ainda
bem jovem, com 16 anos, muito bobinha, retraída e caipira, fui trabalhar numa
casa de 3 irmãs professoras aposentadas, na Rua Lara Campos, onde hoje funciona
uma clínica dentária. E foi lá que minha vida começou. Elas foram para mim, mais
que professoras, foram mães e amigas, me acolhendo como filha, me ajudando com
seus ensinamentos a chegar onde estou hoje.
As
3 tinham gênios e personalidades totalmente distintos. A mais nova era brava e
exigente, a que me ensinava o serviço da casa. A do meio, era carismática e
meiga, que só me dava carinho. E a mais velha, Dona Helena a que me ensinou a
cozinhar e a pegar gosto pela leitura, sempre tinha uma revista de suplemento
feminino para me dar e, foi com ela, que aprendi muitas das coisas na minha
vida, principalmente as regras de etiqueta, inclusive.
Me lembro muito bem do carinho dos ensinamentos: ”Maricota senta aqui, preste atenção: você vai abrir a porta e convide para sentar, pergunte se deseja algo”. E eu, fazia exatamente como ela (Dona Helena) me ensinava. As 3 foram as minhas professoras da vida: Zélia, Luizinha e Helena. E com elas, convivi e trabalhei por 4 felizes anos. Todas às vezes que elas viajam, me traziam presentes. Era muito mimada e presenteada.
Só
saí lá, porque me casei em maio de 1.969. Já no ano seguinte, em 1.970, quando ainda
era bem inexperiente, nasceu o meu primeiro filho, Marcelo.
A vida não era fácil e
a falta de dinheiro e as dificuldades me fizeram voltar a trabalhar como
doméstica. Me recordo que foram momentos difíceis, não tive com quem deixar meu
filho, porque minha mãe engravidou e eu não queria cansa-la demais. Com esse
problema a ser resolvido a decisão foi arrumar uma ocupação rentável que pudesse
realizar em casa mesmo. Decidi que poderia fazer bolos para vender. A essa
altura eu nem imagina como se fazia um bolo, até porque não havia a facilidade
de hoje como a internet e existia outro problema a enfrentar, quem sabia fazer
bolos não ensinava de jeito nenhum.
Mas a vida para quem
acredita é sempre brindada com surpresas ou anjos que aparecem assim, do nada
para te ajudar. O meu se chamava Dona Emília. Uma pessoa de bom coração e que
era irmã de uma grande boleira de Sorocaba. Foi ela que me incentivou e se
comprometeu que caso eu conseguisse as encomendas, me ensinaria a arte da
confeitaria.
Então não perdi tempo,
tomei o rumo da Rua Bom Jesus e fui batendo de porta em porta, oferendo meus
bolos. Muitos saiam, educadamente agradeciam, e até anotavam meu número de
telefone, para que “caso” precisassem de um bolo para aniversário me ligassem, mas
encomenda que era bom, nada.
Até que já cansada e
triste bati na porta de uma senhora (Dona Antonieta), que muito gentil me
convidou para entrar e passou a me indagar sobre os meus bolos, animadamente
expliquei sabores e cobertura, que aliás eu só conhecia em livros de receita.
Ao final da conversa, anotou meu telefone e combinou de agendar o dia para a
confecção do bolo, confesso que sai desconfiada e desanimada achando ela não
retornaria. Mas sim, dois dias depois ligou e encomendou, o que seria meu
primeiro bolo.
Na primeira encomenda o
bolo já veio com exigências da cliente, ela queria cobertura de marshmallow. Eu que nunca tinha feito bolo, imagina então
com essa cobertura. Mas não desanimei e revendo as receitas lembrei que havia
aprendido a fazê-lo no Programa da Ofélia, na TV. O bolo foi encomendado com
recheio de creme branco, pêssego e leite condensado cozido.
Coloquei muito amor
naquele bolo, dei o meu melhor e entreguei a minha primeira cliente com o
coração cheio de alegria. E sabe o que aconteceu? O bolo foi um sucesso, entre
a família e os amigos da cliente que estavam na festa. Costumo dizer que foi
essa receita, que fez minha fama de boleira deslanchar. Para se ter ideia por
11 anos na minha carreira de confeiteira só fiz esse bolo, era raro um pedido
diferente.
As encomendas foram
crescendo e eu mesma era a responsável pela entrega dos mesmos, eu não tinha
carro e percorria toda a cidade a pé, para entregar meus bolos. Mas a medida
que os pedidos foram crescendo e os clientes se tornaram assíduos, passei a
entregar as encomendas na porta da minha casa, na Rua Caio Graco.
Lembro com saudades
dessa fase da minha vida onde vi meus bolos ultrapassando as fronteiras de
Tietê. Esse mesmo bolo de creme branco e pêssego seguiu para Tatuí, Cerquilho,
Campinas, São Jose dos Campos, São Paulo, e várias outras cidades.
Foi então que resolvi
diversificar e passei a fazer além dos bolos, torta de maça e de frango, mas
sempre seguindo com a minha rotina de procurar novos clientes, oferecendo os
produtos de porta em porta.
Nessas andanças pelas
ruas da cidade, tive muitas alegrias, fiz amigos e conquistei novos clientes,
mas nem tudo foram somente flores. Andava no sol tomei chuva, mas nada
comparado a uma situação que me marcou e que até hoje me lembro, mas não me causa
mais tristeza.
Certa vez como fazia em
minha rotina de trabalho, toquei a campainha de uma casa, o dono que na época
era muito rico saiu na porta e educadamente me atendeu. Estava eu oferecendo a
ele meus bolos e tortas, quando nesse momento, ao mesmo tempo, sua esposa saiu
na outra porta lateral da casa. Ele educadamente explicou a esposa sobre minha
venda de bolos e tortas e ela mal o deixou concluir, me olhou grosseiramente e
disse. “Não, não quero seus bolos, não preciso disso”!
E bateu a porta na minha
cara, ele totalmente constrangido pela situação, sorriu e eu fui embora, me sentindo
humilhada, chorei, chorei muito. Entretanto ao chegar na esquina parei,
enxuguei as lágrimas e segui. Isso porque pensei que afinal para quem já tinha
passado por tudo que passei até ali, por tantas dificuldades, não poderia se
deixar abalar por uma simples portada na cara, era muito pouco! Inclusive hoje,
ela é cliente do meu restaurante e acredito que nem se lembre dessa passagem.
O importante era que a
fama de confeiteira estava crescendo, e assim seguiu por anos sempre com vendas
realizadas de porta em porta. Até que duas vizinhas Dona Lourdes e Dona Ivone,
duas professoras aposentadas estando com a casa em reforma e impedidas de usar
a cozinha, me pediram para fornecer pensão (marmitas de comida). Achei a ideia
meio estranha já que meu mote era bolos e tortas e no início relutei, mas
acabaram com jeitinho me convencendo a fazer somente para experimentar.
Aceitei e para meu
espanto e alegria, foi um sucesso. Isso porque elas mesmas se encarregaram em
fazer propaganda da minha comida pela cidade. Contando para amigas e conhecidos
que estavam pegando pensão comigo, com isso, as encomendas foram rápidas e
volumosas. Vieram através delas: bancários, comerciários e médicos, todos passaram
a pegar comida comigo.
Foi um período de muito
trabalho e a produção das marmitas embora grande e lucrativa, me deixou muito
cansada e desgastada, e tive que dar uma pausa a essa atividade. E foi nesse
momento, com a minha pausa que acredito ter aberto as portas das oportunidades
para outros cozinheiros da cidade, que assumiram as marmitas. Enquanto isso eu
voltava a me dedicar aos meus bolos e tortas.
Mas como tudo na vida
são oportunidades e temos que abraça-las, uma nova modalidade de cozinha eu
acredito que ajudei a criar na cidade. Ou seja, passei a ser contratada para ir
até residência da cliente e preparar jantares especiais para convidados.
Importante ressaltar
que fui levada para o preparo do meu primeiro jantar “de gala” pelas mãos de
Dona Lenita, aliás ressalto que a partir do primeiro, cozinhei por anos nos
jantares da casa dela.
Por conta de voltar a
cozinhar, a notícia chegou aos ouvidos dos antigos clientes que passaram a
pedir insistentemente minha comida. Foi então que decidi voltar, mas de modo a
vende-la forma programada. Como? Passei a vender comida congelada.
As vendas das comidas
congeladas foram alavancadas pelos pais que tinham filhos estudando em outras
cidades e moravam em repúblicas. Eles encomendavam o cardápio da semana toda,
ou seja, eu fazia, congelava e no final de semana os pais levavam para os
filhos. Com as vendas em alta, nessa época abri meu primeiro ponto de venda.
Localizado em uma box no Shopping Tietê inauguramos uma Rotisserie que a princípio
tinha a finalidade de vender meus bolos, tortas, mas que passou a vender também
as comidas congeladas.
Lembro como se fosse
hoje o dia da inauguração, tudo foi vendido. Meu filho Marcelo já um
adolescente, ficou responsável pelo atendimento, encomendas e entrega, enquanto
eu ficaria em casa fazendo toda a comida e bolos que venderíamos. As encomendas
não pararam o dia todo, foi um dia para recordar.
Depois disso, os
clientes que trabalhavam pela redondeza e vinham comer um pedaço de bolo,
começaram a pedir insistentemente para que servíssemos comida no local. Os
pedidos foram crescendo e então decidimos nos mudar para um local maior onde
pudéssemos servir comida. Nos instalamos em um sobrado na esquina do clube de
campo do TEC, surge então o Restaurante Maggiorana.
Para constar, o nome
foi eu mesma que escolhi. Uma amiga de São Paulo me trouxe um livro de receitas
italianas e foi lá que vi a palavra maggiorana (manjerona em italiano) e foi simples
assim a escolha.
Neste momento meu filho
Marcelo se tornou meu sócio e passamos a vender comida por quilo, uma inovação
à época. Nos dedicamos trabalhando de domingo a domingo, sem férias, pouco
descanso e muita determinação. E fomos crescendo e os clientes por sua vez, foram
chegando, chegando.
Como já fazíamos bolos
e salgadinhos, passamos a realizar aniversários infantis, adultos e depois casamentos
com serviço de buffet. Em alguns anos no local, o espaço foi se tornando
pequeno. Além disso, associado ao espaço,
havia o protesto de muitos idosos que relatavam que deixaram de frequentar o restaurante,
por conta da escadaria que havia no local. Havia ainda mais um problema, nossos
clientes a medida que tinham filhos, não tinham mais sossego também no local, por
medo de acidentes na escadaria. Por todos esses problemas que foram sendo
associados, resolvemos nos mudar.
Fomos para a Rua
Tenente Gelas no prédio do Dr. Roberto. O local atendia nossas necessidades,
era amplo, arejado e plano, além claro de ser muito bonito. Expandimos a comida
em buffet por quilo, com ampliação de cardápio onde foram adicionamos mais
pratos quentes e frios. Em pouco tempo nos tornamos referência em comida por
quilo na cidade, principalmente por contar de conseguirmos formar uma equipe de
cozinheiros altamente qualificada.
Mas ressalto, que
continuei com meus bolos e tortas que eram exibidos e vendidos em uma vitrine
de doces no restaurante. Permanecemos felizes nesse local por 12 anos.
Foi então que compramos
e restauramos o velho casarão, localizado na Praça J. A. Correia (ao lado da
Prefeitura), onde estamos estabelecidos em prédio próprio há 10 amos
Sou muito grata aos que
me ajudaram a chegar até aqui, mas principalmente ao meu filho Marcelo, que
muito mais que um filho e meu sócio, se tornou meu companheiro de jornada. Sempre
ao meu lado me ajudando em tudo. Cursou a faculdade de administração e hoje
gerencia o restaurante. Juntos, escrevemos a história da nossa empresa, atribuo
também o sucesso a ele que sempre foi dedicado ao nosso negócio e também a sua
esposa Denise nossa parceira, desde que namoravam sempre esteve ao nosso lado
ajudando em tudo, sempre agregando. Somos muito parceiros, somos um pelo outro.
Atualmente há 30 anos
no ramo alimentício, acredito que tudo que se faz com amor e dedicação só bons
frutos são colhidos. É gratificante ver que os clientes lá do meu início
cresceram, melhor ainda é saber que faço parte da história de vida de muitos
deles. Me deparo com situações emocionantes. Já realizei casamento de cliente,
que me recordo em vê-lo pelos corredores do restaurante brincando como também
já organizei festa de aniversário de neto de cliente que frequentava o
restaurante quando criança, com seus pais.
Sinto muita gratidão
por todos que me ajudaram no início comprando diariamente, semanalmente meus pratos
como: Ana Amorim, Dona Cleide Pasquotto e ao Dr. Toledo, e muitos que nem posso
enumerar para não correr o risco de me esquecer de alguém. Agradeço imensamente
Dona Lenita e seu Dorival por toda ajuda no início.
Ainda hoje trabalho com alegria e gratidão e procuro passar isso também aos meus colaboradores. Aliás hoje afastada por conta da pandemia, sinto uma alegria imensa quando nas raras vezes que vou ao restaurante, chego e eles correm para perguntar quando vou voltar, que sentem minha falta lá. Isso sim dá a certeza que não sou nada sem aquele lugar, sem aquelas pessoas queridas, que são meus parceiros caminhada.
E por toda essa história de LUTA, PERSEVERANÇA E DETERMINAÇÃO o GNTC afirma que Neusa é Gente que Entende de.... CONFEITAR E COZINHAR!