São inúmeros e importantes os brasileiros negros que deveriam ser mais conhecidos e reverenciados, todavia, suas vidas e seus feitos foram apagados ou esquecidos pela história oficial do Brasil e, raramente, seus nomes são citados nos livros escolares.
Existem, entretanto, obras que buscam tirar das sombras essas personalidades que foram relegadas ao esquecimento pela visão escravocrata e racista presente na sociedade brasileira. Dentre essas obras, cabe destacar o Dicionário da Escravidão Negra no Brasil, de autoria do cientista social Clóvis Moura.
Com mais de oitocentos verbetes, o Dicionário da Escravidão Negra no Brasil traz explicações fundamentais sobre a exclusão sofrida pelos africanos e seus descendentes, além de mostrar a importância de personagens da história brasileira como: Luiz Gama, José do Patrocínio e tantos outros.
Consta no Dicionário da Escravidão Negra no Brasil que Luiz Gama nasceu na Bahia, em 1830, filho de uma negra conhecida como Luísa Mahin e de um homem branco que, enfrentando dificuldades financeiras, vendeu o próprio filho como escravo.
Luiz Gama foi trazido como escravo para o estado de São Paulo, mais tarde, conseguiu sua libertação. Trabalhou como jornalista e como rábula, isto é, praticante da advocacia sem o respectivo diploma, destacou-se como líder abolicionista.
Conseguiu libertar, pela via judicial, centenas de escravos e lutou até o fim de sua vida pela abolição da escravatura, que não chegou a ver, pois morreu em 1882. Seu legado, todavia, ainda não foi devidamente valorizado.
Outro personagem importante foi José do Patrocínio, nascido em 1853, filho de uma negra quitandeira e de um padre. Formou-se em Farmácia sendo, também, escritor e orador inflamado na defesa da abolição da escravidão.
Explica Clóvis Moura que José do Patrocínio, conhecido pelo apelido de “Tigre da Abolição”, por seus méritos e sua luta heroica pelo fim da escravatura, morreu pobre e esquecido em 1905.
Outra obra fundamental, lançada recentemente, é a Enciclopédia Negra cujos autores: Flávio dos Santos Gomes, Jaime Lauriano e Lilia Moritz Schwarcz, mostram a importância de mais de quinhentos personagens negros que foram esquecidos ou apagados da história brasileira.
Logo na introdução da Enciclopédia Negra os autores explicam que pretendem [...] “ampliar a visibilidade das biografias de 550 personalidades negras”, tirando da invisibilidade suas vidas e fazendo um verdadeiro reencontro do Brasil com esses personagens esquecidos pela história.
Uma das interessantes biografias que consta na Enciclopédia Negra faz o relato da vida de Francisco José do Nascimento, nascido em 1839, no Ceará. Ele foi criado pela mãe, que era rendeira, e logo abraçou a luta abolicionista.
Consta que Francisco José possuía duas jangadas e não concordando com o regime escravista, incentivava outros jangadeiros a não permitir o embarque de escravizados no porto do Mucuripe, sob o slogan: “No Ceará não se embarcam escravos”.
Quando ocorreu a libertação dos escravos no Ceará, estado brasileiro que foi o pioneiro na libertação dos escravos, Francisco José do Nascimento estava presente na Assembleia e passou a ser considerado um verdadeiro símbolo da liberdade, tendo inclusive recebido o apelido de “Dragão do Mar”.
Francisco José do Nascimento – o Dragão do Mar – morreu em 1914 e, nessa altura, a importância e o protagonismo de sua luta, bloqueando portos do Ceará e impedindo o comércio de pessoas escravizadas, já não era muito lembrado e começava a ser esquecido.
O Dicionário da Escravidão Negra no Brasil e Enciclopédia Negra, assim como tantas outras obras já publicadas, buscam mostrar a verdadeira face de brasileiros negros que foram fundamentais na construção da nação brasileira e que, portanto, não podem mais ser esquecidos e apagados da história do Brasil.