O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) inicia hoje (20) a coleta da Pesquisa Urbanística do Entorno dos Domicílios, que mobilizará mais de 22 mil supervisores censitários até 12 de julho. Trata-se do marco de início da operação do Censo 2022. No entanto, ainda não serão feitas entrevistas e os dados serão colhidos apenas por meio de observação.
"Não é o início da visita de porta em porta, mas é a
primeira operação pública de coleta de informações", disse o diretor de
Geociências do IBGE, Claudio Stenner.
A Pesquisa Urbanística do Entorno dos Domicílios é
considerada fundamental porque todos os mais de 326 mil setores censitários,
distribuídos pelos 5.570 municípios brasileiros, são visitados. A partir desse
trabalho, são obtidas informações da infraestrutura urbana consideradas
relevantes para a administração pública. Além disso, os dados acumulados
permitirão atualizar mapas e identificar vias, o que contribuirá posteriormente
para o trabalho dos recenseadores.
Os supervisores censitários vão percorrer todas as ruas
de cada setor censitário que está sob sua responsabilidade. Eles deverão
preencher questionários incluindo dados relacionados aos dez quesitos
investigados: capacidade da via, pavimentação, bueiro e boca de lobo,
iluminação pública, ponto de ônibus ou van, sinalização para bicicletas,
existência de calçada, obstáculo na calçada, rampa para cadeirante e
arborização.
De acordo com o IBGE, os dados levantados poderão
subsidiar a formulação de políticas públicas em áreas urbanas, visando a
melhoria da qualidade de vida da população. Além disso, as informações poderão
oferecer um quadro atual de questões urbanísticas e ambientais das cidades,
permitindo comparações.
Como no Censo 2010, será possível demonstrar, por
exemplo, quais as capitais brasileiras com a maior proporção de domicílios em
áreas arborizadas. Os resultados desta edição serão divulgados apenas no ano
que vem, junto com todas as demais informações apuradas no Censo 2022.
Histórico
O entorno dos domicílios foi pesquisado pela primeira vez
no Censo de 2010. Na ocasião, também foi feito um Levantamento de Informações
Territoriais (LIT), destinado a reunir dados de áreas de precariedade urbana.
Desde então, novas informações foram sendo levantadas de forma amostral junto à
Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), realizada
periodicamente pelo IBGE.
Em meio ao planejamento para o próximo Censo, o IBGE
decidiu em 2017 que a LIT deveria ser unificada com a pesquisa do entorno. O
atual questionário foi definido em 2019 e aplicado de forma experimental no
município de Poços de Caldas (MG). Em 2021, houve novos testes nas cidades
Paulo de Frontin (RJ) e Nova Iguaçu (RJ).
Há um motivo pelo qual esse trabalho é realizado pelos
supervisores censitários. Posteriormente, eles vão supervisionar as tarefas dos
recenseadores que farão as entrevistas com os moradores nos mesmos setores
censitários. "Por isso, é importante que eles conheçam bem a área",
observa Stenner.
É a primeira vez que serão investigados os quesitos ponto
de ônibus ou van, sinalização para bicicletas e obstáculo na calçada. Além
disso, de forma inédita, todas as vilas e favelas serão visitadas.
Segundo Stenner, no Censo 2010 cerca de metade delas, que
possuem maior adensamento, ficou de fora por dificuldades metodológicas. Para
sanar o problema nessa edição, uma nova metodologia será utilizada pelo IBGE
para fazer a identificação do percurso em áreas labirínticas e sem sinal de
GPS.
Operação censitária
O Brasil costuma realizar seu censo demográfico de 10 em
10 anos. Ele é a única pesquisa domiciliar que vai a todos os 5.570 municípios
do país. O objetivo é oferecer um retrato da população brasileira e das
condições domiciliares. As informações obtidas subsidiam a elaboração de
políticas públicas e decisões dos governos relacionadas com a alocação de
recursos financeiros.
A nova edição, que deveria ter ocorrido em 2020, foi
adiada duas vezes: primeiro por conta da pandemia de covid-19 e depois
por dificuldades orçamentárias.
Desde o início, essa operação censitária esteve envolvida
em controvérsias. Em 2019, o IBGE anunciou a redução do questionário, gerando críticas de setores acadêmicos.
As visitas domiciliares para realização das entrevistas
devem ter início em agosto. Há pouco mais de duas semanas, uma decisão da
Justiça Federal do Acre determinou a inclusão no questionário de perguntas sobre
orientação sexual e identidade de gênero. Em resposta, o IBGE apresentou
recurso e publicou um comunicado alegando que não é possível atender o pedido e
que, se a determinação for mantida, o Censo 2022 precisará ser novamente
adiado.