Dados de satélite comparam período de janeiro a
abril dos últimos anos
O desmatamento aumentou no
Cerrado e caiu na Amazônia Legal, no acumulado de janeiro a abril de 2023, na
comparação com o mesmo período do ano passado. Os dados são do Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) coletados a partir do Sistema de
Detecção do Desmatamento em Tempo Real (Deter), disponível na plataforma TerraBrasilis
[http://terrabrasilis.dpi.inpe.br/].
No caso da Amazônia, a área
perdida foi de 1.132,45 quilômetros quadrados (km2) este ano, um número cerca
de 41% menor do que o medido entre janeiro e abril do ano passado (1.967,69
km2), mas equivalente ao desmatamento ocorrido em 2021 (1,153,27 km2) e 2020
(1.204,15 km2).
Já o desmatamento no Cerrado
entre janeiro e abril de 2023 foi o maior dos últimos cinco anos, alcançando
2.133 km2, segundo o Deter. O valor é cerca de 14,5% maior do que o registrado no
mesmo período do ano passado (1.886 km2). Considerando apenas o mês de abril,
os alertas de desmatamento são 31% maiores este ano, na comparação com 2022.
Alerta
Em nota, o Ministério do Meio
Ambiente e Mudança do Clima (MMA) lembrou que o Deter faz um levantamento
rápido de alertas de evidências de alteração da cobertura vegetal na Amazônia e
no Cerrado. Esse levantamento é considerado o principal instrumento de fiscalização
e controle do desmatamento e da degradação florestal, realizados pelo Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e demais
órgãos ambientais. Apesar disso, a plataforma não tem a finalidade de medir com
precisão as áreas desmatadas, o que é feito pelo Projeto de Monitoramento do
Desflorestamento na Amazônia Legal (Prodes), elaborado pelo Inpe anualmente.
“Não é possível, dada a escala
da análise e a cobertura de nuvens que interferem nessas medições, assegurar
que esses números sejam definitivos. Entretanto, constituem importante
ferramenta de planejamento e aprimoramento das ações para combater o
desmatamento ilegal nesses biomas. Nesse sentido, o Ministério do Meio Ambiente
e Mudança do Clima determinou rigorosa apuração dos alertas identificados pelo
Deter, a fim de verificar se foram desmatamentos autorizados pelos Estados,
visto que compete a eles emitir autorizações de supressão de vegetação nativa.
O MMA determinou, ainda, a verificação das bases legais das autorizações
emitidas, bem como a ação imediata do Ibama no sentido de autuar e embargar as
áreas desmatadas sem autorização”, disse a pasta.
Repercussão
Organizações ambientalistas
repercutiram os dados do Deter. Para o WWF-Brasil, o resultado em relação à
Amazônia pode indicar uma reversão na tendência da destruição do bioma, mas
ainda é cedo para saber se tal mudança vai se consolidar. “Recebemos os números
de abril como sinal positivo, mas infelizmente ainda não podemos falar em
tendência de queda de desmatamento na Amazônia. Os números estão num patamar
muito alto e a temporada da seca, favorável ao desmatamento, não começou”,
afirma Mariana Napolitano, gerente de Conservação do WWF-Brasil.
Já em relação ao Cerrado, a
situação é considerada muito alarmante. Cerca de 80% dos alertas de
desmatamento ocorreram em áreas do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, o
chamado Matopiba, região que é, atualmente, principal fronteira de expansão
agrícola no Brasil e uma das grandes frentes de destruição de biomas do mundo.
Nas últimas décadas, o Cerrado perdeu mais de 50% de sua cobertura vegetal
original. O bioma é o principal responsável pela segurança hídrica do país, por
abrigar importantes bacias hidrográficas e os maiores reservatórios de
abastecimento de água das grandes cidades. Além disso, depende do regime de
chuvas estável para garantir produtividade na própria atividade agrícola.
O MMA informou que aumentou o
número embargos de uso de área desmatada ilegalmente em 216% desde janeiro. Já
a apreensão de produtos oriundos de infrações ambientais aumentou 210%, segundo
a pasta.
“No Cerrado e demais biomas
(exceto Amazônia) houve aumento de 169% dos autos de infração de janeiro a
abril em relação à média na gestão anterior. O número de embargos de uso de área
desmatada ilegalmente no Cerrado e demais biomas aumentou 198% e as apreensões
de produtos oriundos de infrações ambientais aumentaram 154% no mesmo período”,
destacou a pasta.
Ainda segundo o governo
federal, em maio será concluída a nova fase do Plano de Prevenção e Controle do
Desmatamento na Amazônia (PPCDAm), restituído por meio do presidente Luiz
Inácio Lula da Silva. Já em julho, o MMA deve iniciar a atualização do Plano de
Prevenção e Controle do Desmatamento no Cerrado (PPCerrado), que “permitirá a
ampliação e intensificação dos esforços do governo federal, em parceria com os
governos estaduais e a sociedade, para combater o desmatamento no bioma”.