Em dias normais eu durmo muito, muito cedo, 21h30 já é tarde pra mim. Quando preciso ficar até mais tarde acordado eu apelo para energético, café e outras tentativas, muitas vezes frustradas de ligar um filme ou série para ficar acordado. Ilusão, durmo as vezes na primeira cena. Porém no dia 13 de dezembro às 22h recebo uma mensagem, e por milagre divino eu estava acordado, mas infelizmente a notícia não era, boa. Um querido havia partido para os braços do pai.

Eu possuo dezenas de histórias em velórios, mas em velório de verdade não pode faltar café e chá, de modo geral eu opto por chá, curiosamente naquele 14 de dezembro optei 2 vezes pelo cafezinho, não estava lá do meu gosto, mas era muito cedo, e eu precisava ficar mais alerta.

Fiz uma breve cerimônia, sepultamos o companheiro e parti para a farmácia e supermercado, não é propaganda, mas é o Supermercado Coopbom de Cerquilho. Eu frequento esse supermercado desde que abriu aqui na cidade, como era muito perto da minha casa, eu sempre estava lá, fazia as comprar e tomava um cafezinho, esse sim com mais pó, um café para se cortar com faca como diriam os antigos apreciadores de café forte. Mas aí veio a pandemia, nossos hábitos mudaram, mas eu me mantive firme, ir ao supermercado e não tomar o café de lá era como ser traído, afinal desde sempre eu tomo o cafezinho da loja.

Pois bem, alguma pessoa sem alma e que odeia a felicidade das pessoas ligou para vigilância sanitária de Cerquilho, “Denunciando” que pessoas estavam sem máscara, conversando e tomando café dentro do Mercado. Vê se pode uma coisa dessa, não dá para tomar um cafezinho sozinho em local público, conversar faz parte do ritual. Aliás vai um conselho aos lojistas, coloquem uma garrafa de café em seus estabelecimentos, grandes ou pequenos, se for pequeno tenha certeza, a pessoa volta para casa com a lembrança do café, não do seu comércio. Após a pseudo-denúncia do crime hediondo que é “Tomar café em local público sem máscara e conversar com amiguinho”, a gerência cometeu o pecado capital de tirar o café. A cada visita eu cobrava meu cafezinho, e sempre a mesma história; “a vigilância sanitária recebeu uma denúncia e ligou aqui, e não podemos mais servir o café”

Naquele 14 de dezembro, com gosto amargo de participar de um velório eu cheguei no estabelecimento e pedi o café, a moça da recepção e o gerente vieram com a mesma história. Então fiquei bravo. Então quer dizer que a vigilância permite tomar café dentro do Velório Municipal, mas não deixa tomar meu cafezinho no supermercado? Supermercado que frequento há mais de 4 anos? Vou resolver isso pro senhor, quero meu cafezinho, falei bravo, porém calmo com o gerente.

Peguei o celular e liguei para vigilância sanitária de Cerquilho e disse. “Vocês permitem tomar café no velório e não permitem no supermercado por qual motivo? Se aqui tem covid, lá também tem”. A moça muito educada e simpática me explicou que não era bem assim, que não havia uma proibição formal, e que sim o supermercado poderia servir o meu cafezinho sem problemas.

Passei o telefone para o gerente, se acertaram e mais tarde, voltei ao supermercado e tomei meu cafezinho em paz. Fácil, simples, respeitoso. Todos ficaram felizes, eu, os clientes que assim como eu pedem diuturnamente pelo cafezinho, o gerente e com certeza a tia do café, que já devia estar chateada porque o pessoal da cidade não estava mais bebendo o seu cafezinho.

A noite anterior e o começo da manhã, não foram muito bons, mas no final do dia ter a certeza de ter confortado pessoas e ajudado um gerente amigo, me fez sentir melhor. Vejam que coisa, caros, raros e preciosos leitores, uma ligação mudou toda uma situação que já perdurava por meses, parece uma coisa simples e realmente é, mas quem resiste ao abraço em um dia de luto e um cafezinho para acalmar o coração e aquecer a alma.Feliz Natal, um Próspero Ano Novo e lembre-se faça o bem não importa a quem.