Olá amigo leitor, um dos mais íntimos dos meus sonhos é publicar um livro com as histórias das mulheres que eu conheci. Aqui na coluna vou publicar alguns dos textos já prontos, aguardo seu feedback no WhatsApp 15 99730 0119. 

Chamarei todas de Maria, algumas já morreram outras ainda vivem, então o anonimato se faz necessário. Segue o primeiro. 

Ramom é meu filho amado.

Por ser Pastor, tenho contato com muitas pessoas, pessoas fantásticas, fanáticas, enfáticas, enfim pessoas são sempre pessoas, são sempre um universo à parte. Não foi diferente com a Maria, da mesma maneira que veio, foi, mas deixou um sensação muito amargar em minha mente. Não sei explicar também, mas se me der essa honra leia o texto até o final.

Era um dia comum de Pastor, estava na Igreja e fui apresentado para a Maria.

- Olá Pastor, sou Maria, prazer em conhecer... a partir daqui não me lembro mais nada só do Ramom*, seu filho, a cada 3 frases ela falava Ramom, o Ramom, mas o Ramon. Já conversei com mães que amam os filhos, mas nada parecido com aquela mãe ali na minha frente.

A medida que conhecia Maria, fui entendendo a sua história que na verdade é a história de muitas e muitas outras mulheres no Brasil e no mundo, Ramom é um dependente químico, jogou fora a sua dignidade e também da sua indefesa mãe. Ao olhar para ela, meu desejo era pedir para ela, sente aqui, tome um café, relaxe um pouco, descanse, a cada conversa com ela parecia uma mulher exausta que acabara de correr uma maratona, descalça, no asfalto quente com uma mochila de 20 kg nas costas, tamanho era o seu desgaste, físico.

Nossos encontros foram poucos, mas muito marcantes, a cada duas a 3 frases ela colocava o Ramom. Isso é muito comum principalmente em mães de dependentes químicos, elas ficam aprisionadas, presas, encarceradas no vícios dos filhos. Perdeu todos os bens, carreira, negócios e outras coisas mais.

Aqui merece um comentário, por essas e outras que a cada vez que um pessoa falara de liberação das drogas eu fico maluco e me lembro da Maria, o que dizer para uma mãe que perdeu tudo, desde que a primeira vez aos 13 anos seu filho amado, esperado e querido experimentou a drogra pela primeira vez, tudo para um bandido, mal caráter ficar rico. Não há lógica na liberação das drogas, ela vai continuar matando e destruindo vidas, ceifando dignidades, violentando a alma de crianças. 

O que eu soube é que depois de mais de 10 anos desde aquelas conversas que tive com Maria, a situação dela é a mesma, agora com alguns agravantes, o Ramon vez por outra vai preso, teve um diagnóstico de esquizofrenia , e a Maria continua cada vez mais cansada e oprimida. 

Todos os especialistas dizem as mesmas coisas para as mães. 

- Feche a porta, não deixe ele entrar mais.

- Seja dura com ele, não permita chantagens emocionais.

- Não pague dividas de drogas.

- Não permita que ele aprisione a senhora.

- Ele não está preocupado com você e sim na droga.

- Seu filho vai acabar te matando, ou literalmente ou pelas doenças adquiridas.

Todas essas frases eu já falei para muitas mães e a Maria me confessou que ouviu também nos grupos de apoio pelo qual ela passou.

A ultima noticia que tiver ontem mesmo é que o Ramon também agride a mãe, é triste, é amargo, é complexo, mas não há o que fazer, apenas orar por Maria, para que de alguma forma ela possa encontrar consolo em sua vida.

Nada explica o coração de uma mãe, enquanto o Ramon estiver vivo Maria vai tentar salvá-lo, disso eu não tenho dúvidas. Nunca pude fazer muito por Maria, mas ela fez muito por mim, depois dela eu passei a olhar muito diferente para as mães com filhos nos vícios, eu aprendi a ver por traz do cansaço, da angústia , da dor, do sofrimento, hoje quando vejo uma mãe assim eu olho na fundo, bem no fundo dos olhos e vejo apenas uma mãe, a verdadeira mãe, aquela que dará a vida pelos filhinhos que colocou no mundo. A partir dali tudo mudou, eu mudei.

Obrigado Maria, eu vi você e suas marcas ainda estão no meu coração.

*O nome verdadeiro de Ramon foi preservado assim como de Maria.