A depressão é a ausência de vitalidade. É a solidão dentro nós mesmos, capaz de destruir nossas conexões com outros e a capacidade de se estar em paz consigo mesmo. A depressão traz confusão e a falta de significado das nossas relações, emoções e ações. A falta de significado da vida. O que sobra é a insignificância.
A pior parte é a sensação de decadência, saber que se está sendo transformado em algo débil, que a cada instante novas partes de você vão para os ares, tornando-te cada vez menor. É como um carvalho que, tomado por uma trepadeira, tem suas folhas, ramos, galhos e tronco reconhecidos apenas à distância, quando, na verdade, está tomado por inteiro. A depressão toma conta, sufoca e nos esconde à sombra da luz.
A primeira coisa que se vai é a felicidade. Depois, a tristeza como você a conhece. Então é a vez do humor, da crença no amor e na sua capacidade de amar. Você cheira azedo, não confia nas pessoas, se torna menos que si mesmo. Você, fraco que está, senta-se à janela da vida e serenamente se larga à deriva.
O que te dá prazer, passa a não dar mais. Tudo perde a cor, perde o sabor. A aflição que se sente perde até seu sentido. O poder sobre seu estado de espírito é tomado e seus dias de felicidade são mais contados, para ser modesto. O desespero que se sente é desproporcional a qualquer coisa que o pudesse provocar, como angústia de uma torneira pingando ou uma conversa que não é com você, mas te faz apenas querer chorar.
A depressão nos dá a sensação de que nunca irá passar. Ela se renova ao nos levantarmos e o que sentimos hoje é certamente diferente do que sentiremos amanhã. O prazer se torna menos prazeroso e a dor, menos dolorosa. A depressão se apoia em um sentimento paralisante de iminência.
A depressão antecipa dores futuras e o presente, enquanto presente, deixa de existir ou não é granito mais importante. As mãos que se estendem para você estão sempre fora do alcance. A depressão é inimaginável para quem não a tem. A única maneira de falar sobre ela é em metáforas, como árvores e trepadeiras. As pessoas próximas têm sempre a expectativa de que um depressivo se recomponha, porque o mundo em que vivemos não tolera tantas lamúrias, mas os anos se passam e parece ser pouco o que muda. O controle te abandona quando mais precisa dele e o único conselho que posso dar é para que seja razoável consigo mesmo, a culpa não é sua.