Com esta “simples”
pergunta, repetida duas ou mais vezes, o grande provocador Antônio Abujamra, já
falecido, encerrava seu programa Provocações,
exibido pela TV Cultura, deixando seus convidados inquietos e, muitas
vezes, inseguros por seu tom provocativo. Por estes dias me deparei com um
compilado de respostas dadas ao apresentador, mas como Clarice Lispector em seu
conto Se Eu Fosse Eu – cuja leitura
sugiro -, fiquei tão pressionado pela
indagação, que tudo se tornou secundário. Fui então à procura de uma resposta.
Sabe-se que a
filosofia está repleta daqueles que também tentaram encontrá-la e, talvez,
falharam. Um grande pensador, porém, nos ofereceu uma resposta um tanto quanto
interessante. Jean-Paul Sartre, existencialista por excelência, acreditava que
o Homem está condenado a ser livre e por meio dele o nada vem ao mundo, pois
sua existência é anterior à sua própria essência, ou seja, cabe a ele criar a
si e é durante sua vivência que define, momento por momento, o que é. Em outras
palavras, é o Homem o único responsável por construir os significados da vida –
múltiplos, portanto. Para Sartre, assim, não há certo ou errado, há apenas a
significação construída por cada um de nós, por meio da liberdade que nos é
dada.
Tendo isto em
mente, comecei a questionar diversos amigos e amigas em tom provocativo
semelhante ao de Abujamra: “o que é a
vida?”, lhes perguntava repetidamente, três vezes. As respostas foram das
mais diversas e o experimento me fascinou.
Uma das
pessoas me respondeu, poeticamente, que “a
vida é um rasgar se remendar”, enquanto outra me disse que “a vida é uma grande incerteza”. Também
tive respostas como “uma m**rda”, mas
também como “uma coisa que te derruba
todo dia pra te fazer ficar muito feliz quando uma vez no ano você consegue
ficar de pé”. Houve quem me respondeu que a vida “é maravilhosa... dom de Deus... para evoluirmos e aprendermos”.
Um daqueles
por mim provocados, em tom de incerteza – porque a vida talvez seja isto, uma
incerteza absoluta -, respondeu achar “que
a vida é uma busca por tentar driblar as coisas que chegam de forma impactante,
que levam a gente a ir para outro caminho”. E prosseguiu: “a vida pode ser uma busca espiritual (...)
por tentar entender o mundo tal como ele é” ou que “a vida pode ser um mistério de estar vivo e estar exposto a tudo”.
Seja qual for
a resposta, não há acertos ou erros. A única certeza é que vivemos um indefinido
e a vida é para alguns o que não é para outros, ao mesmo tempo em que habita
cada centésimo de milímetro deste Universo, vasto e desconhecido. Talvez a
busca pelo sentido seja o que nos atribui o próprio sentido e, nas palavras de
Lispector, “o terrível dever é ir até o
fim”.
De toda
maneira, se pudesse eu ser provocado por Abujamra, e interrogado “o que é a vida?”, poderia responde-lo
apenas com uma outra pergunta: “O que não
é vida?”, e seu brilhantismo talvez me respondesse: “O que não muda!”.