Desenvolver e vender
alimentos geneticamente editados agora é permitido na Inglaterra, após recente
mudança na legislação local.
O governo espera que a nova
tecnologia venha criar empregos e aumentar a produção de alimentos.
Mas preocupações com a
segurança e o meio ambiente fizeram com que a permissão não se estendesse para
outras partes do Reino Unido. Por quê?
O
que são os alimentos geneticamente editados?
Há muitos anos, os
agricultores produzem novas variedades de alimentos usando técnicas
tradicionais de cruzamento. Eles podem, por exemplo, combinar um repolho
grande, mas não muito saboroso, com outro que é pequeno, mas delicioso - e
assim criar o produto perfeito.
Mas este processo pode levar
anos. Conseguir a mistura correta das centenas de milhares de genes do repolho
para produzir safras grandes e saborosas exige tentativa e erro.
As técnicas genéticas
retiram o elemento aleatório da equação. Eles permitem que os cientistas
identifiquem quais genes determinam o tamanho e o sabor, para poder inseri-los
nos lugares corretos e desenvolver a nova variedade com muito mais rapidez.
Quais
são as técnicas genéticas utilizadas?
A modificação genética é um
método comum na maior parte do mundo há mais de 20 anos, mas não na União
Europeia (UE).
A técnica acrescenta ao DNA
de uma planta genes de uma espécie de planta diferente ou até de um animal. Ela
cria novas variedades que não poderiam ser produzidas com o cruzamento.
Já a cisgênese é similar à
modificação genética, mas envolve a adição de genes da mesma espécie ou de
espécies próximas. A nova legislação irá permitir a cisgênese se ela resultar
em um alimento que poderia ter sido produzido com o cruzamento tradicional.
Por fim, a edição genética é
uma técnica muito mais recente e permite que os cientistas se concentrem em
genes específicos.
A nova legislação permite
ativar ou desativar esses genes, removendo uma pequena seção de DNA - também
aqui, desde que o produto resultante possa também ser gerado naturalmente.
Quando
os alimentos geneticamente editados estarão disponíveis no Reino Unido?
O Brexit - a saída do Reino
Unido da União Europeia - permitiu que o governo inglês criasse regulamentações
para produtos geneticamente editados que são muito menos severas que as
existentes na UE.
Mas os produtos
geneticamente editados não estarão à venda imediatamente. A tecnologia ainda é
relativamente nova e pode levar vários anos para que novas variedades sejam
disponíveis. Mas elas estão a caminho.
A legislação também abre a
possibilidade de venda de carne, ovos e laticínios de animais geneticamente
editados. Mas os parlamentares precisariam aprovar esta autorização em
separado, já que o governo ainda está analisando o possível impacto sobre o
bem-estar dos animais.
Por isso, não existe previsão
clara de quando pode ocorrer a aprovação dos produtos geneticamente editados de
origem animal.
As novas regras não exigem
que os produtos geneticamente editados tenham essa indicação no rótulo. O
parlamento inglês considera que eles não são diferentes dos produtos
convencionais.
E, até o momento, a Escócia,
o País de Gales e a Irlanda do Norte não alteraram suas leis locais sobre os
produtos geneticamente editados.
Quais
alimentos geneticamente editados serão colocados à venda?
No Japão, já é possível
comprar tomates ricos em uma substância chamada GABA, que tem efeito calmante.
E também há o peixe pargo-vermelho modificado, que oferece mais carne para a
produção de sushi.
Uma empresa americana está
desenvolvendo amoras sem sementes e cerejas sem caroços.
No Reino Unido,
pesquisadores desenvolveram tomates que contêm vitamina D. E cientistas em Hertfordshire,
no sul da Inglaterra, também estão fazendo experiências com trigo geneticamente
editado.
Mas a indústria alimentícia
quer usar a tecnologia de edição genética principalmente para acelerar o desenvolvimento
de novas variedades dos produtos atuais.
As empresas querem adaptar
os produtos com maior precisão, produzindo batatas com mais amido para os
fabricantes de salgadinhos e vegetais ricos em proteínas para substituir a
carne.
A indústria alimentícia
também deseja introduzir características que aumentem a produção e criar
variedades mais resistentes às mudanças climáticas.
Os
alimentos geneticamente editados são seguros?
Os cientistas insistem que
as três técnicas genéticas - modificação genética, cisgênese e edição genética
- produzem alimentos seguros para o consumo e indicam que todos os alimentos
são rigorosamente testados.
Eles afirmam que produtos
geneticamente modificados são consumidos por bilhões de pessoas na Ásia e no
continente americano há mais de 25 anos, sem efeitos prejudiciais.
Mas as preocupações com os
riscos à saúde e os impactos ambientais causaram a proibição da produção
comercial ou venda de produtos geneticamente modificados ou editados na União
Europeia, embora haja atualmente alguns sinais de possíveis mudanças.
Quais
são as preocupações de segurança?
Muitos ativistas se opõem
aos alimentos geneticamente editados, sem fazer distinção entre eles e os
produzidos pela tecnologia anterior, de modificação genética.
Sua preocupação é que os alimentos
geneticamente editados não exigem testes adicionais. Eles receiam que sejam
criados novos alérgenos ou toxinas e também se preocupam com os possíveis
impactos ambientais dos produtos geneticamente editados.
Os cientistas afirmam que
não existem evidências de que os produtos geneticamente modificados tenham
prejudicado ecossistemas ou a saúde humana. Eles esperam que o mesmo aconteça
com os alimentos geneticamente editados.
O governo britânico acredita
que, como os produtos geneticamente editados não podem ser diferenciados das
variedades naturais, eles enfrentarão menos oposição do que seus equivalentes
geneticamente modificados.
Uma pesquisa recente e ainda
não publicada do instituto YouGov para o Departamento de Assuntos Rurais e
Alimentícios do Reino Unido (Defra, na sigla em inglês) confirmou esse ponto de
vista, mas também encontrou uma minoria considerável que se opõe à ideia.
Segundo a pesquisa, 54% dos
entrevistados responderam que os produtos geneticamente editados são
"aceitáveis" e 28% afirmaram que eles são "inaceitáveis".
A pesquisa também concluiu
que 78% dos entrevistados são favoráveis a algumas das aplicações ecológicas da
edição genética, como a redução do uso de pesticidas e herbicidas. Mas o apoio
ao uso de edição genética em animais foi menor, devido ao receio de que a
tecnologia possa causar sofrimento aos animais.