Antônio Vieira foi um homem de grandes lutas e pesadas derrotas, todavia, sempre preferiu enfrentar as batalhas que sua visão humanitária, religiosa e avançada demandava, ainda que para tanto tivesse que enfrentar ódios, perseguições e falta de reconhecimento público. 

Tendo nascido em Lisboa, no ano de 1608, Antônio Vieira veio ainda criança para o Brasil, aqui estudou no Colégio dos Jesuítas e tornou-se um dos mais brilhantes missionários da Companhia de Jesus. Ainda que tenha voltado para a Europa algumas vezes, viveu a maior parte de sua vida no Brasil e aqui faleceu no ano de 1697. 

Padre Antônio Vieira é, atualmente, reconhecido como um dos maiores escritores e oradores do século XVII, além de ter sido um destemido defensor dos índios do Brasil, dos judeus portugueses e dos africanos escravizados.

No livro “A luta inglória do padre Antônio Vieira e outros estudos”, a professora Anita Novinsky destaca aspectos das batalhas enfrentadas pelo valente jesuíta, em favor dos judeus e dos cristãos-novos de Portugal, para tanto atacando as atrocidades cometidas pelo Tribunal da Inquisição, também conhecido pelo nome de Santo Ofício. 

Ressalta Anita Novinsky que: “A maior defesa que os judeus portugueses conversos tiveram, em toda a sua história, veio de um padre jesuíta que lutou, no século XVII, contra a destruição física e cultural que o Santo Ofício vinha promovendo contra os cristãos-novos”. 

Tendo convivido com judeus e conversos, em Portugal e em outras partes do mundo, Vieira lhes devotava uma grande admiração e respeito, razão pela qual a professora Anita Novinsky reconheceu que, ao longo do século XVII, somente o Padre Vieira levantou sua voz para combater os procedimentos cruéis da Inquisição e defender os judeus e os cristãos-novos, fazendo reclamações e solicitações junto ao Rei de Portugal, ao Papa e às autoridades da época.

A defesa intransigente dos judeus e o combate aos castigos brutais, que judeus e cristãos-novos eram submetidos pelo Tribunal da Inquisição, encontrou em Vieira a mais poderosa voz, senão a única, que teve a lucidez de enfrentar os desmandos do Santo Ofício. 

Evidentemente, essa atitude causou graves problemas ao jesuíta que sofreu, ele mesmo, um longo processo no Tribunal da Inquisição tendo sido condenado, proibido de pregar e recolhido à prisão, de onde só sairia muito tempo depois.  

Mais de quatro séculos após sua morte, a obra do Padre Antônio Vieira é reconhecida como uma das mais importantes do século XVII, sua atuação em favor dos perseguidos e desamparados da época, no caso, os judeus, os índios do Brasil e os africanos escravizados fizeram dele um homem polêmico, destemido e à frente do seu tempo.

Enfim, como escreveu Anita Novinsky: “Não conhecemos ninguém no mundo que oficialmente tenha se levantado contra as injúrias e difamações que foram acumuladas pelo direito canônico contra os judeus”.

O tempo passou, a verdade apareceu, mais de quatro séculos após a sua morte, finalmente, Padre Antônio Vieira é reconhecido por sua luta em favor da justiça e pelo respeito aos seres humanos, independente de sua origem. 

A lição que o Padre Antônio Vieira nos legou com suas lutas, com sua vida e com a monumental obra escrita que deixou é: o reconhecimento, ainda que tardio, sempre chega e vale a pena estar do lado certo da história.