Podemos perceber que as relações entre pais e filhos foram modificadas ao longo dos últimos anos. De uma criação mais rígida e autoritária que a maioria dos pais tiveram, hoje percebemos maior abertura ao diálogo, uma cumplicidade entre pais e filhos e por que não dizer, uma relação de amizade – talvez uma relação que os pais com mais de 40 anos, não experienciaram com seus próprios pais.

Nos dias atuais fala-se muito em acolhimento afetivo dos filhos. Acolher afetivamente pode ser uma forma de compreender as incertezas, os medos e as alegrias que nossos filhos vivenciam, proporcionando que eles entendam a necessidade de, às vezes, ser submetido a frustração e aprender a sobreviver emocionalmente a ela. Significa fazer com que ele compreenda que embora você entenda o momento que ele está passando, ainda assim você estará ali, mas, ajudá-lo a passar por estas situações faz parte do amor que você sente por ele. 

Acolhimento afetivo combina com a super amizade com os filhos?

Nem sempre. Nas relações entre pais e filhos, precisamos sempre nos lembrar de quem é o adulto da relação. Nem sempre nossas crianças e adolescentes tem condições de discutir de igual para igual com os pais, assim como fariam com os amigos. Nem sempre nossos amigos cuidam de nossas necessidades emocionais com o dever de cuidado que reflete uma preocupação com o tipo de adulto que seremos (muitas vezes nossos amigos de infância e adolescência nem estarão presentes em nossa vida adulta), nem sempre nos mostram que às vezes precisamos nos frustrar para amadurecer emocionalmente entendendo que esta orientação, esse “não”, este limite,  pode fazer a diferença entre ser um adulto mais saudável emocionalmente, mais eficiente e funcional,  ou não. Na maioria das vezes, nossos amigos estão sempre presentes, mas sem uma preocupação com o nosso futuro, afinal, amizades nem sempre são eternas. Mas a relação pais e filhos é.

Amar nossos filhos, também significa educar, também significa ensinar que nem tudo é da maneira como gostaríamos que fosse.

Para que nossos filhos possam aprender a lidar com as frustrações de não serem atendidos em tudo o que querem, precisam passar por estas situações. Dá um certo trabalho enfrentar em conjunto estes sofrimentos.  Mas não as enfrentar, nos dará mais trabalho num futuro bem próximo.

Proporcionaremos um aprendizado de que podemos ter tudo o que quisermos, desde que mostremos sofrimento, birras, gritos, autolesão e muitas outras formas que sensibilizam os adultos – que neste momento poderiam estar nos ensinando a lidar com nossas frustrações – e acabam se sentindo impotentes, sob o comando de um amor incondicional e um dever de ser amigo para não impor autoridade.

O fato é que cada vez  mais percebemos que nossas crianças vêm buscando limites, elas nos pedem, embora ainda não saibam. E como não sabem agir diante disso, reagem de forma desproporcional à menor aflição, e os adultos que deveriam ser um “porto seguro” para as aflições, e um condutor para que possam passar por estas situações de forma a buscar o amadurecimento, saem navegando juntos, e a direção nem sempre é a melhor.

Ser amigos de nossos filhos, é sim abrir-se para o diálogo, mas sem perder de vista a missão de educar, inclusive emocionalmente.

Quem é o adulto que você espera que seu filho se torne? Responder a esta questão pode ajudar na correção da rota.