Neste mês de abril em especial, profissionais da saúde e
educação, movimentam-se para a conscientização do Autismo. Como profissional da
área e com formação na intervenção especializada, quero trazer um pouco da
prática clínica no trabalho com os autistas. Para além do diagnóstico - e dos inúmeros textos que já lemos sobre o
assunto e dos filmes e séries que muitas vezes romantizam o transtorno - quero falar um pouco do olhar clínico nestes 8
anos de experiência de trabalho na área.
Já trabalhei com autistas leves, moderados e severos. Todo
trabalho com autista tem melhores resultados quando há um trabalho
multidisciplinar, e a tríade de sucesso inclui terapeutas, escola e
fundamentalmente as famílias.
Nestes anos de trabalho e também como tia e mãe de autista
(sim, eu tenho um filho deficiente intelectual e autista), testemunhei a fragilização das famílias diante do
diagnóstico, as dificuldades em seguir as instruções de terapia, em lidar com a
realidade desta criança/adolescente, certo sentimento de impotência diante do
transtorno e às vezes, e por que não, a incerteza no futuro deste ser tão
desejado.
Onde quero chegar com este relato?
Muito mais do que
entender o que é o autismo, de expor as intervenções cientificamente comprovadas
como eficazes, eu quero falar do apoio necessário às mães, pais, irmãos, aos
que diariamente convivem com estas crianças e adolescentes.
O que esta criança/adolescente precisa? Que tipo de
intervenção (comumente chamada de tratamento) será necessária para que ela se
desenvolva e se torne funcional e adaptada ao nosso meio social e acadêmico? O
que ela precisa para ser feliz, sentir-se integrada, respeitada?
Autista ou não, o que toda criança/adolescente atípica
precisa é que possamos olhar para eles como um ser em desenvolvimento, como
olhamos para os neurotípicos. E para suas famílias, com muita empatia.
Auxiliar a ensiná-los da maneira como aprendem, aceitá-los
em suas dificuldades e muito além de respostas prontas de manuais, enxergar a
sua individualidade.
Precisamos acolher estas famílias em suas dificuldades, em
seu sofrimento. Nenhuma mãe/pai - quando
em gestação - desejou um filho especial.
Todos desejaram e planejaram um futuro para uma criança típica. E frente às
dificuldades de seus filhos, se desestruturam, atribuem a si mesmos uma culpa
que não existe. Precisam de apoio, de acolhimento e por que não, que
compreendamos que sim, eles amam seus filhos, mas não as suas dificuldades.
Entender que o trabalho com crianças e adolescentes, autistas
ou com outras necessidades especiais é uma parceria entre a família, a escola,
poderes públicos e nós, técnicos. O auxílio mútuo e organizado torna mais fácil este trabalho que
é individualizado e tem como fim, que
eles desenvolvam autonomia e aprendam para além de suas dificuldades e
diagnóstico.