É a
maior taxa não relacionada a incêndios desde 2005
Embora responda 30% das
florestas do mundo, o Brasil foi responsável por 43% do desmatamento global no
ano passado, permanecendo na liderança do ranking das nações que mais perdem
florestas no mundo. A destruição de 1,8 milhão de hectares em 2022 resultou em
1,2 gigatonelada (Gt) de emissões de dióxido de carbono, ou 2,5 vezes as
emissões anuais de combustíveis fósseis do país.
Os dados, publicados nesta
terça-feira (27), são da mais recente atualização do Global Forest Watch (GFW),
do World Resources Institute (WRI), instituição global de pesquisa e proteção
ambiental. Com base em imagens de satélite, foi possível constatar que a perda
de florestas primárias na região dos trópicos, onde ficam as grandes florestas
úmidas como a Amazônia, foi 10% maior em 2022 do que em 2021.
Foram 4,1 milhões de
hectares, o equivalente a 11 campos de futebol por minuto, uma perda que
produziu 2,7 gigatoneladas (Gt) de emissões de dióxido de carbono, número
equivalente às emissões anuais de combustíveis fósseis da Índia.
A destruição de florestas
primárias aumentou não só no Brasil e na República Democrática do Congo - os
dois países com mais florestas tropicais no mundo - como também em outras
nações, como Bolívia e Gana. Entre os países com grandes áreas de florestas
primárias, apenas Indonésia e a Malásia conseguiram manter as taxas de perda de
florestas primárias próximas aos níveis mais baixos já registrados.
Os países onde mais se
perdeu florestas primárias por área em 2022:
Os dados mostram que a
Declaração dos Líderes de Glasgow sobre Florestas e Uso do Solo, assinada por
mais de 140 países, incluindo o Brasil, na COP26, em 2021, não está alcançando
seu objetivo de preservação desses biomas.
Florestas
primárias
No Brasil, a perda de
florestas primárias cresceu 15% em 2022, sendo que a maior parte da perda
ocorreu na Amazônia. Foi a maior taxa não relacionada a incêndios desde 2005.
Embora responda por 30% das florestas do mundo, o país respondeu por 43% do
desmatamento global, permanecendo na liderança do ranking das nações que mais
perdem florestas no mundo.
“Isso representa mais de 1,7
milhão de hectares de florestas tropicais primárias, que são as florestas mais
maduras, mais intactas e mais importantes ecologicamente para o sistema
ambiental do mundo”, explicou o coordenador de Ciência de Dados de Florestas do
WRI Brasil, Jefferson Ferreira-Ferreira.
“Embora a gente não consiga
dizer quais são as causas exatas dessa perda de florestas, existem indícios
muito importantes que mostram que uma boa parte se deu por causa da expansão da
agricultura e de pastagens, principalmente no sudoeste da Amazônia, nos estados
do Acre e do Amazonas. No Acre e no Amazonas. o que se viu nos últimos dois
anos foi que as taxas de perda de florestas tropicais praticamente dobrarem, o
que representa um risco bastante grande, porque é nesta região que se tem
algumas das florestas mais intactas do país”, disse Ferreira-Ferreira.
Segundo o WRI Brasil, além
dos impactos de carbono, a perda de florestas na Amazônia afeta as chuvas
regionais e pode, em última instância, levar a um “ponto de não retorno” em que
a maior parte do ecossistema se tornará uma savana. Neste bioma, a perda de
floresta primária acelerou na Amazônia Ocidental. No caso do Amazonas, local de
mais da metade das florestas intactas do Brasil, a taxa quase dobrou em apenas
três anos.
O Acre também apresentou
alguns dos níveis mais altos de perda já registrados. As perdas de florestas
primárias na parte da Amazônia brasileira são causadas, principalmente, por
desmatamentos em grande escala (provavelmente para pastagens de gado)
juntamente com as rodovias existentes.
“Essas perdas de florestas
sempre podem ser revertidas, mas leva tempo. Algumas ações imediatas que podem
e devem ser tomadas são ações de controle que fortalecem a fiscalização, que
fazem cumprir a a legislação e aplicação de multas”, explicou o coordenador.
Ações
No entanto, há outras ações
que precisam ser estabelecidas. “São ações estruturais de longo prazo como, por
exemplo, ações que visam fortalecer a economia da região amazônica com as
florestas em pé. Um estudo recente do WRI com outros parceiros e um total de 75
pesquisadores, mostrou que as ações de conservação e de uso econômico da
floresta podem gerar mais de R$ 1 trilhão para a economia brasileira. Mas isso
requer ações realmente estruturais, que deem força para a economia da
floresta”.
Vários territórios indígenas
ameaçados na Amazônia brasileira também perderam florestas primárias em 2022,
aponta o levantamento do WRI Brasil. Os territórios Apyterewa (PA), Karipuna
(RO) e Sepoti (AM) registraram níveis recordes relacionados a invasões de terra.
A perda de floresta primária devido à mineração também é visível no território
indígena Yanomami (RR), que foi alvo de uma operação governamental para
expulsar garimpeiros ilegais no início de 2023.
Novos desmatamentos se
expandem pelo território indígena Sepoti. Apesar disso, os territórios
indígenas no Brasil têm uma taxa de desmatamento muito menor do que terras
semelhantes gerenciadas por outros agentes e representam os últimos sumidouros
de carbono da Amazônia.