Publicação tem uma página a
mais para cada seleção
A menos de um mês do início da
Copa do Mundo de Futebol do Catar – que será realizada no período de 20 de
novembro a 18 de dezembro – o Instituto Benjamin Constant (IBC), vinculado ao
Ministério da Educação, confeccionou e está distribuindo gratuitamente um álbum
de figurinhas dos jogadores, adaptado em braille, para atender pessoas com
deficiência visual.
O diretor da Divisão de
Educação do IBC, Luigi Amorim, em entrevista para a Agência Brasil, disse que a
decisão de fazer um álbum em braille remonta à Copa de 2018, quando um aluno
chamou sua atenção para essa questão.
Amorim terminava uma aula de
matemática para uma turma do 4ª ano e começou a falar sobre o conteúdo que
daria na aula seguinte em que abordaria figuras geométricas. Ele pediu aos
alunos que passassem a mão sobre a superfície da mesa para saberem que se
tratava de um retângulo.
Soube que um dos alunos
gostava de futebol, torcia pela seleção brasileira e que, utilizando a reglete
(instrumento criado para a escrita braille) com um artefato chamado punção, ele
conseguia fazer retângulos para colar figurinhas da seleção. A reglete é um dos
primeiros instrumentos criados por Louis Braille para a escrita braille, para
que cegos possam ler e escrever, furando o papel.
No IBC, Amorim fez parte de um
setor de adaptação de material didático e tinha expertise de fazer figuras para
a escrita braille. Naquela semana, ele tinha acabado de completar o álbum da
Copa com o filho e resolveu elaborar um com retângulos para colagem das
figurinhas e entregá-lo ao aluno na aula seguinte. Amorim distribuiu também
para outros alunos do IBC e conseguiu mandar para fora do país alguns
exemplares, mas o trabalho não teve a divulgação de agora.
Lançamento
No último dia 23 de setembro,
na semana em que o IBC comemorou 168 anos de existência, o novo álbum da Copa -
adaptado em braille - foi apresentado para a comunidade de assistência a
deficientes visuais.
Luigi Amorim orienta os alunos
e demais pessoas com deficiência visual interessadas em colecionar as
figurinhas da Copa e colá-las no álbum que baixem um aplicativo que lê imagens
chamado Lookout.
“O aplicativo lê o número da
figurinha e ali eles [pessoas com deficiência visual] têm todas as informações
que a figurinha traz como altura, peso, nome do jogador e ano em que estreou na
seleção”, explicou.
O álbum tem uma página a mais
para cada seleção. A disposição das figurinhas é a mesma do álbum comum. O
grande diferencial é que cada seleção tem uma página a mais em que vem a
legenda com todos os jogadores.
O diretor comentou que a única
coisa que falta para que o álbum proporcione total independência e autonomia às
pessoas com deficiência visual é que a figurinha tenha um corte em cima para
identificar se ela está de cabeça para cima ou para baixo.
Tiragem
Foi feita uma tiragem inicial
de 200 álbuns, distribuídos internamente no IBC. Outros 3 mil estão sendo
enviados para assinantes da Revista Pontinhos, publicação trimestral em
braille, voltada ao público infantojuvenil, e da Revista Benjamin Constant
(RBC), ambas do IBC, de mais de 20 países que falam a língua portuguesa.
“Qualquer instituição que
atenda pessoas com deficiência visual pode solicitar que a gente envia. Também
estamos disponibilizando o arquivo, caso a instituição tenha uma impressora
braille, para que ela possa fazer a impressão lá e a pessoa tenha acesso ao
álbum”, informou o diretor.
O IBC tem em sua escola, com
matrículas regulares, 260 alunos da pré-escola à educação profissional. O
instituto atende, porém, um número maior de alunos - 960 - incluindo educação
precoce, atendimento, atletas, pessoas que perdem a visão e procuram reabilitação,
pós-graduações e mestrado.
União
O estudante João Lucas
Meireles Uchôa, aluno do 5ª ano da escola do IBC, com baixa visão, considerou
uma ótima ideia a elaboração do álbum em braille. “Tem gente que não enxerga e
vai poder completar o álbum. Isso vai unir mais a escola. Todo mundo vai poder
trocar [figurinhas] e ninguém vai ficar de fora”, comemora. A figurinha de que
ele mais gosta, e que ainda não tem, é a dourada de Neymar. “Muito difícil”,
disse.
Com as figurinhas repetidas,
João Lucas disse que ele e os colegas fazem um tipo de jogo bate e passa. O
jogo é assim: colocam-se as figurinhas de cabeça para baixo, bate-se em cima e
aquelas que virarem pertencem ao jogador que bateu. Com isso, os colecionadores
conquistam novas figurinhas para colar nos álbuns, explicou o estudante do IBC.