As doenças cardíacas são a
principal causa de morte de mulheres em todo o mundo, mas permanecem com
barreiras importantes na hora do diagnóstico e do tratamento, alerta uma
reconhecida cardiologista.
Para a médica Susan
Connolly, consultora do Hospital Universitário Galway, na Irlanda, é
fundamental que as mulheres estejam cientes dos riscos das doenças cardíacas.
Segundo a especialista, a
percepção de que os problemas no coração atingem principalmente os homens deve
ser erradicada.
O risco começa a aumentar
devido às alterações hormonais durante a menopausa, altura da vida em que a
mulher deixa de menstruar.
"Antes da menopausa, o
risco de doenças cardíacas nas mulheres é muito menor do que nos homens. Porém,
após a menopausa, [a probabilidade de sofrer com problemas no coração] se
equipara rapidamente. Acredita-se que isso aconteça devido à diminuição do
estrogênio, um hormônio protetor", explica a cardiologista.
Os estrogênios são um grupo
de hormônios que desempenham um papel fundamental na saúde reprodutiva
feminina, incluindo as fases da puberdade, da menstruação, da gravidez e da
menopausa.
Essas substâncias também são
importantes para a saúde do coração, dos ossos e do cérebro de homens e
mulheres, de acordo com a Biblioteca Nacional de Medicina dos Estados Unidos.
Para a ginecologista Sandra
McNeill, especialista em doenças cardiovasculares, é importante que a mulher
esteja no melhor estado de saúde possível quando chega à menopausa.
Isso envolve não fumar,
controlar o peso, moderar o consumo de álcool e praticar exercícios.
"Tradicionalmente,
pensava-se que os problemas cardíacos eram apenas sofridos pelos homens.
Infelizmente, isso não é verdade. As mulheres até são um pouco mais protegidas
até a menopausa pelo estrogênio", diz o ginecologista.
No entanto, uma vez que esta
fase da vida da mulher é alcançada e os níveis de estrogênio caem, o coração
sofre — e, de acordo com McNeill, os problemas cardíacos nelas até superam os
sofridos pelos homens.
Devido ao efeito positivo
dos estrogênios, as mulheres geralmente desenvolvem doenças cardíacas 10 anos
depois do público masculino.
E, se a menopausa chega
antes dos 40 anos, o risco de doença cardíaca supera ao observado em outras
mulheres da mesma idade que ainda não entraram nessa fase.
Sintomas
diferentes
"Podemos não ter os
mesmos sintomas de doenças cardíacas que os homens", alerta McNeill.
Esses sinais
"clássicos" de infarto e outras condições geralmente são aperto no
peito, dor no braço, formigamento e falta de ar — que também podem ser sentidos
por mulheres com doenças cardíacas.
Mas, nelas, essas não são as
únicas pistas de que algo grave está acontecendo no coração. As mulheres também
podem relatar náusea, fadiga, indigestão, ansiedade e tontura.
"As mulheres tendem a
se apresentar mais tarde [ao hospital] porque não percebem que estão sofrendo
um ataque cardíaco e não se veem em risco", argumenta Connolly.
Reconhecer e tratar um
ataque cardíaco aumenta rapidamente as chances de sobrevivência.
Muitas vezes, as mulheres
não são diagnosticadas com a mesma velocidade dos homens.
Elas também são mais
propensas a sofrer com certas doenças cardíacas que são mais difíceis de
detectar, como a doença microvascular coronariana, a síndrome do coração
partido ou a angina variante, explica a Biblioteca Nacional de Medicina dos
EUA.
Um atraso no diagnóstico
pode levar a uma demora maior no atendimento — o que pode dificultar o
tratamento e facilitar as complicações no peito.
"As doenças cardíacas
são as maiores assassinas de mulheres no mundo", diz Connolly.
"As mulheres morrem
duas vezes mais em decorrência das doenças cardíacas do que de câncer de mama.
Por isso, é crucial que todas estejam cientes do risco, que começa a aumentar
na menopausa", completa a cardiologista.
Além de cuidar da saúde
física e mental, as mulheres que querem proteger o coração também são
aconselhadas a ficar de olho no colesterol, na pressão arterial e nos níveis de
açúcar no sangue.
*Com
reportagem de Marie-Louise Connolly e Catherine Smyth, da BBC News Irlanda do
Norte.