Não
é de hoje a discussão sobre a mudança nos padrões de independência de nossos
filhos. De uma geração que planejava o futuro profissional, uma vida conjugal,
filhos e independência emocional (e financeira) dos pais, cada dia mais temos
filhos que permanecem por muitos anos na companhia dos pais, não desejam mais
relacionamentos duradouros e nem constituir família. De adolescentes ávidos
para ingresso na vida adulta e cheios de planos, para uma geração que vivencia
o hoje sem preocupações. Da maturidade incansavelmente almejada, para a
imaturidade plenamente vivenciada. O que será que houve? O que mudou no padrão
de educação de nossos filhos que os mantém ainda tão dependentes de seus pais?
Não
sei se encontraremos a resposta, mas proponho pensarmos em algumas variáveis
que possam estar contribuindo para que esta realidade seja cada vez mais
presente nas famílias atuais, e que já é chamada de “geração canguru”.
Que
a relação entre pais e filhos sofreu uma mudança significativa nas últimas
décadas, não podemos negar. Mas como era
de se esperar com todos os avanços culturais, educacionais, tecnológicos, entre
outros, é natural que mudemos nossos conceitos e padrões de comportamento.
Possivelmente
esta geração é fruto de pais de regimes mais severos de educação e que seguiram
o modelo de “serei mais amigo de meus filhos”? É uma variável possível.
Esta
geração teve limiares de frustração mais baixos, que possibilitaram menor
resistência (e por que não resiliência) às adversidades de uma vida em
comunidade? É outra variável possível.
Esta
geração sofreu o impacto de um mercado de trabalho cada vez mais exigente e
seletivo, que frustrou suas expectativas de independência financeira? Variável
a ser considerada.
Esta
geração conviveu em núcleos familiares que desestimularam ou foram ambivalentes
no incentivo à independência e sua competente segurança de sobrevivência
emocional e financeira longe dos pais? Outra variável possível.
Conviveram
com pais que poucos “nãos” disseram e ofereceram recursos materiais excessivos,
pois estavam compensando suas ausências? Possível.
Estas
são algumas reflexões, dentre inúmeras outras, que precisamos ponderar para
tentar entender a insistência em permanecer na casa dos pais, em vivenciar uma
adolescência estendida.
O
fato é que a casa dos pais sempre será um porto seguro, mas faz parte do amadurecimento
emocional o desenvolvimento de habilidades para solução de problemas.
Ensinar
desde cedo nossos filhos a resolver problemas de convivência, identificar suas
aspirações e motivá-los a buscar independência, demonstra nossa segurança de
uma educação emocional adequada. Eles terão dificuldades, e ali estaremos para
auxiliar, mas com a certeza de que fornecemos as bases e que o auxílio se faz
de forma temporária.
Não
julgaremos as escolhas, mas estaremos incentivando o melhor desempenho no
caminho de uma vida adulta na qual será um prazer imenso compartilhar as
conquistas.
Para
os pais de hoje, a projeção passa pela resposta à seguinte pergunta: Que tipo
de adulto eu quero que meu filho (a) se torne?