Estamos iniciando 2022. Um ano que esperamos recuperar nossas expectativas interrompidas por uma pandemia. E este ano inicia com novos dados de mais uma cepa do vírus, com uma nova variante da influenza, ou seja, as notícias são “velhas”. Não é o que estávamos esperando. Queríamos nossa liberdade de volta.

O fato é que a vacinação de grande parte da população tem se mostrado eficaz, desenvolvendo formas mais leves de sintomas, mas a contaminação continua. O vírus ainda está entre nós e agora, com maior chance de circulação pois “perdemos” o medo dele. Poucos são os que ainda mantém os cuidados necessários para se evitar a contaminação.  E embora com sintomas respiratórios mais leves, e menores números de internações e ocupação de leitos hospitalares, o vírus continua fazendo suas vítimas.  Mas nada do que eu disse até agora é novidade para todos nós.  O que fato é que este relaxamento nos cuidados tem feito mais vítimas assintomáticas e leves, no entanto, as sequelas pós-covid não se desenvolvem apenas nas formas mais graves, embora sejam mais frequentes. A relação de gravidade dos sintomas não é mais tão evidente em relação à faixa etária. De crianças a idosos estamos observando, de novo, altas taxas de contaminação.

Pesquisas recentes têm encontrado sequelas importantes em pacientes acometidos pela Covid e prejuízos cognitivos estão entre eles. Já evidenciado em inúmeros estudos clínicos (abaixo cito alguns), temos recebido pacientes com relatos de dificuldades na memória, em especial a recente, dificuldades atencionais, prejuízos em suas funções do dia a dia.

Estudos na população italiana observaram que cerca de “80% dos pacientes internados por Covid-19 em diferentes graus de severidade apresentaram déficits cognitivos necessitando de reabilitação cognitiva, principalmente relacionados à atenção e memória, e cerca de 40% apresentaram episódios depressivos de intensidade moderada a leve.  Além disso, os pacientes pós-Covid-19 também podem apresentar alterações sensoriais, desorientação momentâneas, confusão mental e alterações de nível de consciência. Também são observadas altas taxas de transtorno de estresse pós-traumático, sintomas depressivos e exacerbações de transtornos psiquiátricos pré-existentes “(1).

Muitos estudos referem que os efeitos neurológicos do vírus podem ser um resultado indireto da falta de oxigênio no cérebro (baixa oxigenação/saturação, que pode comprometer o sistema nervoso central), ou ainda relacionado à uma resposta inflamatória do corpo – que acabam afetando nossas habilidades cognitivas – e as pesquisas têm indicado que o impacto independe da gravidade da doença (2). Ou seja, ainda que seja de forma leve, a contaminação pela COVID-19 pode trazer sequelas e prejuízos no funcionamento das nossas habilidades cognitivas, em qualquer faixa etária, que podem ser transitórias ou crônicas.

Muitos outros estudos estão em andamento e em breve conseguiremos entender o real alcance além da letalidade que nos alarmou no início da pandemia. O fato é que, vacinados estamos protegidos das formas mais graves, mas não livres da contaminação e dos efeitos pós-covid.

Prevenir ainda continua sendo o melhor remédio! Cuidem-se.

 

 

  (1)Reabilitação cognitiva para pacientes pós-COVID-19. Sumário técnico. Rafael Leite Pacheco, Carolina de Oliveira Cruz Latorraca, Paola Zucchi NATS-SPDM

(2)GRAHAM, E.L., CLARK, J.R., ORBAN, Z.S., LIM, P.H., SZYMANSKI, A.L., TAYLOR, C., DIBIASE, R.M., JIA, D.T., BALABANOV, R., HO, S.U., BATRA, A., LIOTTA, E.M. AND KORALNIK, I.J. (2021), Persistent neurologic symptoms and cognitive dysfunction in non-hospitalized Covid-19 “long haulers”. Ann Clin Transl Neurol, 8: 1073-1085. https://doi.org/10.1002/acn3.51350.