Podem
chamar-me saudosista, ultrapassada, alienada... careta... Sou tudo isto e mais
um pouco, mas não consigo acompanhar a rapidez desordenada com que as mudanças
acontecem, o passo acelerado das transformações... não consigo, como disse
alguém, acompanhar o “passo da História”.
É,
acho que parei, estacionei, pois recuso-me a ver relegados a segundo plano
valores a que me acostumei, de acordo com os quais fui preparada para enfrentar
a vida.
Perdoem-me
os modernos, os atualizados, os “up-to-date”, mas, diante da realidade mundial,
na qual ficamos atônitos em face do desrespeito ao ser humano, quando se
promovem guerras inconcebíveis e se mata sem razão plausível, numa busca desenfreada de poder... e poder...
e poder, teria sido melhor ficar à margem de tal modernidade, perder o passo, e
não perder a vida.
Teria
sido melhor essa perda que ser obrigada a conviver com o fantasma do
mau-caratismo, do “salve-se quem puder”, do “vale mais quem tem mais” (bens
materiais, é claro!)
Frequentemente
sou obrigada a buscar, no mais profundo de meus guardados, lembranças da
singeleza de hábitos, como esperar com ansiedade um presente sonhado durante
muito tempo ou deliciar-me com o lanche recheado de manteiga e mel, tão
cuidadosamente preparado por minha avó.
Fico
triste também quando vejo que as crianças e jovens de hoje não sabem esperar,
não porque não o querem, mas porque não lhes permitimos; nós, os adultos,
premidos pelas circunstâncias atuais, atropelamos seus passos e queremos nos
adiantar ao desenvolvimento natural de cada um deles. Estamos sempre nos
antecipando, passando à frente, impedindo-os de seguirem o ritmo natural de sua
caminhada. Ao invés de incentivarmos sentimentos e atitudes como solidariedade,
compartilhamento, paciência, verdade, deixamos que eles deixem-se levar pelas
fantasias do mundo virtual, pela pressa de colher resultados imediatos, sem
antes cuidar da semente, pela competitividade exacerbada.
Sim,
talvez fosse melhor frearmos um pouco o apego ao desenvolvimento tecnológico,
às novidades que, muitas vezes, nos impedem de prestar atenção à essência do
ser humano e mostrar à nossa juventude que suprir as necessidades básicas de
cada um, a fim de que todos tenham o suficiente para viver, em paz, sem sofrimento,
sem fome e, principalmente, sem a falsa sensação de que “ter” é sinônimo de
“viver”, é o verdadeiro sinal de humanidade e realização.