O ritmo de ajuste da taxa básica de juros, a Selic, deve diminuir. Essa previsão está na ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada hoje (8) pelo Banco Central (BC), mas poderá ser revista para que a inflação convirja em direção à meta.
Na semana passada, o
comitê aumentou
a taxa Selic de 9,25% para 10,75% ao ano, tendo por justificativa o aumento
da inflação de alimentos, combustíveis e energia. Foi a primeira vez – desde
julho de 2017, quando atingiu 10,25% ao ano – que a Selic chega a uma marca de
dois dígitos.
“Em relação aos seus
próximos passos, o Comitê antevê como mais adequada, neste momento, a redução
do ritmo de ajuste da taxa básica de juros. Essa sinalização reflete o estágio
do ciclo de aperto, cujos efeitos cumulativos se manifestarão ao longo do
horizonte relevante”, diz a ata publicada hoje pelo BC.
O Copom destaca ainda que os
“passos futuros da política monetária poderão ser ajustados para assegurar a
convergência da inflação para suas metas, e dependerão da evolução da atividade
econômica, do balanço de riscos e das projeções e expectativas de inflação para
o horizonte relevante da política monetária”.
A Selic é o principal
instrumento do Banco Central para manter sob controle a inflação oficial,
medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Em
2021, o
indicador fechou em 10,06%, no maior nível desde 2015, pressionado pelo
dólar, pelos combustíveis e pela alta da energia elétrica.
Projeções
No cenário de referência
descrito pelo Copom, com trajetória para a taxa de juros extraída da pesquisa
Focus e dólar cotado a R$ 5,45, as projeções de inflação ficariam em torno de
5,4% para 2022 e 3,2% para 2023. Esse cenário supõe trajetória de juros que se
eleva para 12% ao ano, no primeiro semestre de 2022, termina o período em
11,75% ao ano e reduz-se para 8% ao ano em 2023.
De acordo com essas
projeções, a inflação terminará 2022 acima da meta que é de 3,5%. O limite de
tolerância é de 1,5 ponto percentual. Ou seja, a inflação pode ficar entre 2% e
5%.
Para 2023, o centro da meta
é 3,25%, também com tolerância de 1,5 ponto percentual.
As projeções para a inflação
de preços administrados são de 6,6% para 2022 e 5,4% para 2023. “Adota-se a
hipótese de bandeira tarifária vermelha patamar 1 em dezembro de 2022 e
dezembro de 2023”, projeta o comitê.
Fatores de risco
De acordo com o cenário de
referência do Copom, a inflação envolve fatores de risco em ambas as direções.
Por um lado, uma “possível reversão, ainda que parcial”, do aumento nos preços
das commodities em moeda local produziria trajetória de inflação
abaixo do cenário de referência. Por outro lado, “políticas fiscais que
impliquem impulso adicional da demanda agregada ou piorem a trajetória fiscal
futura podem impactar negativamente preços de ativos importantes e elevar os
prêmios de risco do país”.
Contas Públicas
Na avaliação de riscos
descrita na ata, o Copom argumenta que, mesmo em uma situação de desempenho
mais positivo das contas públicas, a incerteza em relação ao arcabouço fiscal
continua mantendo “elevado o risco de desancoragem das expectativas de
inflação”, o que acaba por implicar em uma “maior probabilidade” de trajetórias
para inflação acima do projetado.
“A incerteza em relação ao
futuro do arcabouço fiscal atual resulta em elevação dos prêmios de risco e
eleva o risco de desancoragem das expectativas de inflação. Isso implica
atribuir maior probabilidade para cenários alternativos que considerem taxas neutras
de juros mais elevadas. O Copom reitera que o processo de reformas e ajustes
necessários na economia brasileira é essencial para o crescimento sustentável
da economia”, diz a ata.
Pleno emprego
O comitê ressalta que a
última decisão relacionada à Selic reflete o “cenário de referência” e um
balanço de riscos de “variância maior do que a usual para a inflação
prospectiva”, sendo portanto “compatível com a convergência da inflação para as
metas ao longo do horizonte relevante, que inclui os anos-calendário de 2022 e,
em grau maior, de 2023”. “Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar
a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações
do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego”, complementa a ata.