O Senado aprovou, na sessão dessa segunda-feira (13), a criação de uma Comissão Temporária Externa para acompanhar as investigações do desaparecimento do jornalista Dom Phillips, correspondente do jornal britânico The Guardian, e do indigenista Bruno Araújo Pereira, servidor licenciado da Fundação Nacional do Índio (Funai). Os dois estão desaparecidos desde 5 de junho na região da reserva indígena do Vale do Javari, a segunda maior do país, com mais de 8,5 milhões de hectares.
O pedido de criação da
comissão foi feito pelo senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP). Segundo ele, a
região está entregue a organizações criminosas de garimpo ilegal, de extração
ilegal de madeira e também do narcotráfico. “E são essas organizações
criminosas no Vale do Javari, contra as quais Dom Phillips,
Bruno Pereira e os povos indígenas lutavam”, argumentou o senador.
O grupo será formado por
três integrantes da Comissão de Direitos Humanos, três da Comissão de Meio
Ambiente e três da Comissão de Constituição e Justiça. Segundo Randolfe, o
objetivo é ir até o Vale do Javari, apurar as causas do desaparecimento e
investigar o aumento da criminalidade na Amazônia, considerado por ele uma das
causas do desaparecimento do jornalista e do indigenista. O colegiado deverá
atuar por 60 dias.
Durante a sessão, o senador
Flávio Bolsonaro (PL-RJ) propôs aguardar mais alguns dias antes de criar a
comissão. Para ele, pode ser questão de dias o desfecho do caso, com a
localização de Phillips e Pereira, considerando os esforços do poder
público nas buscas. Pacheco, no entanto, manteve a votação do requerimento de
Randolfe. O presidente do Senado entendeu que a missão da comissão externa vai
além. O colegiado deverá se debruçar sobre as atividades criminosas praticadas
naquela região.
“Eu considero que a criação
da comissão externa, além da questão do desaparecimento e do eventual desfecho
trágico em relação ao indigenista Bruno Araújo e ao jornalista Dom Phillips, é
aquilo que disse no começo desta sessão: existe uma situação hoje, no
Estado do Amazonas e em outros estados, onde há a Floresta Amazônica, de crime
organizado, tráfico de drogas, tráfico de armas, desmatamento ilegal, extração
de madeira ilegalmente, pesca ilegal, garimpo ilegal”.
No início da sessão, Pacheco
fez uma longa fala sobre o caso, lamentando o ocorrido. “Nós não queremos
precipitar o que de fato aconteceu com o Bruno Pereira e com
o Dom Phillips, mas, caso se confirme o fato de terem sido
eventualmente assassinados, é uma situação das mais graves do Brasil”. Ele
afirmou que o Senado tem o dever de reagir ao que tem ocorrido na Amazônia.
“Portanto, de fato, não por
esse acontecimento apenas, mas por todo o contexto de um estado paralelo que se
impõe num lugar em que infelizmente o Estado brasileiro não consegue preencher
suficientemente, isso é motivo de alerta e de reação do Senado”.
Pacheco também exaltou o
trabalho de Bruno Pereira como servidor da Funai, no combate às ilegalidades
praticadas em terras indígenas. “Segundo se sabe, o Bruno Araújo Pereira,
servidor da Funai, vinha denunciando uma série de irregularidades, de crimes
praticados naquela região, de atentados a povos indígenas, de descumprimento da
lei, de um estado paralelo ali implantado e que vinha então sendo denunciado
por ele”.
Na última sexta-feira (10),
a Polícia Federal (PF) no Amazonas, que está à frente das forças de segurança
na Operação Javari, informou que equipes de busca encontraram material
orgânico, “aparentemente humano”, em uma área próxima ao porto de Atalaia do
Norte.