O número exato das vítimas do nazismo não é conhecido, todavia, sabe-se que a crueldade nazista matou cerca de seis milhões de judeus, além de um incontável número de prisioneiros de guerra, pessoas com deficiência, homossexuais, políticos contrários ao regime nazista, ciganos e religiosos de diferentes confissões como protestantes, ortodoxos e católicos.

No livro “O Pavilhão dos Padres: Dachau, 1938 – 1945”, de autoria do jornalista francês Guillaume Zeller, está relatado o sofrimento e morte dos sacerdotes aprisionados no campo de concentração e extermínio de Dachau. 

Trata-se de um relato sobre a trágica realidade enfrentada por cerca de 2.720 religiosos, que sofreram todo tipo de abuso, tortura, fome e doença, sendo que grande parte deles morreu no campo de concentração de Dachau, vítima da maldade e do terror implantado pelos nazistas. 

Particularmente dolorosa é a história de três irmãos poloneses: Pawel, Alois e Boleslaw que decidiram consagrar suas vidas a Deus, tornando-se sacerdotes. Os três foram presos pelos nazistas e mandados para os campos de concentração.

Está relatado no livro que: “Após meses de sofrimentos intensos, faminto, esgotado, Alois é o primeiro a falecer, no dia 17 de julho de 1942, e a desaparecer nas entranhas do crematório”. 

Poucos dias depois, no dia 14 de agosto, o fim chega para Boleslaw, que é enviado para um centro de eutanásia que os nazistas haviam instalado na Áustria. Consta que: “Ao vê-lo partir, Pawel, atordoado, faz o sinal da cruz na testa do irmão, pede-lhe que abrace seus pais e Alois no céu e diz que logo estará com eles”.

Menos de um mês depois, no dia 30 de agosto: “Pawel cumpre sua promessa e sucumbe também em Dachau”.

Como a história dos irmãos Prabucki existem outras, que não são conhecidas, todavia, novas pesquisas lançam luzes sobre a tragédia, montada e executada por Hitler e seus seguidores, que desde o início: “desconfiam dos católicos da população alemã, sobretudo do clero, cuja oposição ganha o nome de Kirchenkampf (Batalha da Igreja)”.

O tamanho do sofrimento de judeus, cristãos e de todos, que estiveram aprisionados em campos de concentração, nunca poderá ser devidamente avaliado, todavia, a grandeza de espírito, a força da fé e a coragem que demonstraram nunca poderão ser esquecidas.

Muitos anos depois, o seminarista – Kazimierz Majdanski – agora bispo, comparece para depor no julgamento de um dos médicos responsáveis pelas sádicas experiências médicas realizadas na “Estação Experimental de Bioquímica”. 

Diante do tribunal ele relata as dores, as febres, os gemidos, as sequelas e as mortes ocasionadas por tais experiências, explica que faz seu depoimento sem qualquer motivo de raiva ou vingança, pois: “Perdoei a todos e manifesto meu perdão no testamento redigido com vistas à minha morte, que pode acontecer a qualquer momento”.

Sem ceder aos desejos de vingança, sem abandonar a busca pela justiça e sem relegar ao esquecimento suas tristes memórias, o perdão que o bispo Kazimierz Majdanski e outros sacerdotes de Dachau concederam aos carrascos nazistas é, certamente, a maior demonstração da heroica coragem e da grandeza da fé desses homens.