Um
golpe militar está acontecendo no Sudão, pouco mais de dois anos após o país
iniciar sua transição democrática e apenas um ano depois de firmar acordo de
paz com os grupos rebeldes.
Nesta
segunda, 25, o premiê Abdallah Hamdok foi detido e levado para um local não sabido.
A maior parte dos integrantes do gabinete presidencial e líderes partidários
governistas foram presos em Cartum, a capital. Ainda, emissoras de rádio e
televisão foram invadidas e os funcionários, detidos, segundo o Ministério das
Informações.
O
Chefe do Conselho Soberano sudanês, tenente-general Abdel Fattah al-Burhan,
responsável pela preparação do país para as eleições democráticas, decretou
estado de emergência e a dissolução do conselho. Segundo ele, os militares
estarão à frente do Governo até as eleições, previstas para acontecer em julho
de 2023.
“Garantimos o
compromisso das Forças Armadas de completar a transição democrática até que
entreguemos o poder a um Governo civil eleito”, disse o tenente, que
não justificou a media decretada, se limitando a afirmar que o Sudão enfrenta
uma “ameaça real e um perigo para os
sonhos da juventude e para a esperança de construir uma nação cujas
características estão começando a emergir”.
O acesso à internet do país foi interrompido pouco após a meia-noite local, aproximadamente 19:00h no horário de Brasília. A prática era comum quando do regime do ditador Omar Al-Bashir, que a utilizava para sufocar manifestações dissidentes. Omar foi deposto em abril de 2019, após 30 anos de Governo.
Ainda
hoje, 25, o aeroporto de Cartum foi fechado e os voos, suspensos. O Exército e
as forças paramilitares foram posicionados por toda a capital, restringindo
movimentos civis. O sindicato que reúne os trabalhadores sudaneses, a
Associação de Profissionais do Sudão – SPA, convocou greve geral.
“Pedimos às massas
que saiam às ruas e as ocupem, fechem todas as estradas com barricadas, façam
uma greve geral dos trabalhadores, não cooperem com os golpistas e usem a desobediência
civil para enfrenta-los”, solicita o comunicado.
O
comitê médico local relatou o encaminhamento de, ao menos, 12 pessoas feridas,
enquanto o Ministério da Informação afirmou terem ocorrido disparos contra
manifestantes em frente ao Ministério da Defesa.
Entre
as figura detidas, para além do premiê, estão os Ministros da Indústria e da
Informação, um membro do Conselho Soberano, um assessor de comunicação do premiê
e o Governador do Estado em que fica Cartum.
O
Sudão enfrenta forte tensão política, marcada por uma tentativa anterior de
golpe, datada de setembro, atribuída à militares leais ao Governo ditatorial
anterior. Além disso, a crise econômica é marcada por uma inflação recorde, com
escassez de produtos básicos, o que levou o país a receber ajuda de fluxos
internacionais, mas sob alerta de que a tomada do controle por militares
colocaria a assistência em risco.