Na loja de alimentos saudáveis
do meu bairro, existe um canto que sempre foi um mistério para mim: as prateleiras
repletas de frascos de plástico brancos com suplementos de proteína em pó.
No vestiário da academia,
muitas pessoas desmancham-se em elogios, explicando que acrescentam apenas uma
colher daquele pó ao leite ou shake, fazem exercícios e conseguem aumentar seus
músculos.
A popularidade dos suplementos
de proteína não se restringe mais aos fisiculturistas e atletas profissionais.
Parece que este é um bom momento para observar as pesquisas existentes sobre a
proteína em pó.
Algumas pessoas tomam bebidas
proteicas como lanche entre as refeições ou até para substituir uma refeição,
quando não têm tempo de comer.
As pessoas veganas, às vezes,
usam esses suplementos para aumentar a ingestão de proteínas, quando acham que
sua alimentação não está fornecendo o suficiente. E existem centenas de novos
produtos alimentícios nos supermercados – desde barras de cereal até sorvete e
chocolate – destacando seus altos teores de proteína na embalagem.
Existem diversas concentrações
disponíveis. As doses mais altas destinam-se aos fisiculturistas.
O pó pode vir de fontes
animais, como ovos ou leite, ou vegetais. A proteína pode ser extraída de
ervilhas, batatas, arroz e soja, por exemplo, e transformada em pó. Às vezes,
as fábricas acrescentam aromatizantes, para fornecer sabor agradável.
As proteínas são importantes.
Ninguém duvida que elas sejam uma parte essencial da nossa alimentação.
Nós precisamos das proteínas
para construir e reparar músculos, fortalecer nossos ossos, preservar o sistema
imunológico e manter o nosso cérebro, coração e pele em condições de cumprirem
suas funções.
Mas quantos de nós realmente
precisamos de suplementação?
Alimentos como ovos, leite,
iogurte, peixe, lentilhas, carne, soja, nozes e sementes são ricos em
proteínas. E a maior parte dos adultos nos países ricos consegue ingerir pelo
menos a quantidade diária de proteína recomendada pelas autoridades de saúde.
Em uma meta-análise de 49
estudos, a ingestão média de proteínas na alimentação dos participantes no
início da pesquisa superava as recomendações canadenses e norte-americanas em
mais de 75%. E existem cientistas da área – como Stuart Phillips, da
Universidade McMaster, no Canadá – que defendem que os níveis recomendados
podem não ser suficientes para todas as pessoas.
Uma das dificuldades é saber o
quanto de proteína pode ser necessário para cada indivíduo. A resposta depende
da idade, das condições de saúde e da rotina de exercícios, de forma que a
recomendação padrão pode não se aplicar a você.
Algumas pessoas mais idosas,
por exemplo, podem sentir menos apetite e acabar comendo tão pouco que não
conseguem obter proteínas suficientes na sua alimentação. E, se você for um
atleta de resistência profissional, você irá precisar de mais proteínas do que
um adulto médio.
Sabemos que as proteínas da
alimentação constroem os músculos, mantêm os ossos fortes e protegem o nosso
sistema imunológico.
Seria então o caso de quanto
mais proteínas consumirmos, melhor? Será que todos nós nos beneficiaríamos de
consumir um pouco mais? Ou existem riscos quando aumentamos nossa ingestão de
proteínas desta forma?
O que dizem as pesquisas
Para nossa sorte, existem
alguns estudos que podem nos orientar a este respeito.
A maioria das pesquisas
costuma demonstrar que, de fato, a proteína em pó pode ajudar a construir
músculos, como afirmam muitas pessoas. Mas o segredo é que ela só funciona se
você também fizer alguma forma de exercício de resistência, como aparelhos de musculação.
Ou seja, se os músculos não
forem exercitados, o aumento da proteína não irá surtir efeito.
Em uma meta-análise de 2014,
os pesquisadores combinaram os dados de 14 estudos controlados aleatorizados.
Neles, metade das pessoas consumiu, por exemplo, proteína de soro em pó – feita
com o líquido que sobra quando o leite é transformado em queijo – e a outra
metade tomou uma bebida placebo.
Eles concluíram que, se as
pessoas também fizessem exercícios de resistência, consumir a proteína em pó
realmente aumentava sua massa corporal magra. Mas, se elas simplesmente
tomassem as bebidas sem exercício, o aumento não era estatisticamente
significativo.
Uma das dificuldades quando
tentamos comparar os estudos é que alguns deles são realizados com pessoas obesas,
outros com pessoas mais idosas e, ainda outros, com pessoas mais jovens que
frequentam academias, o que dificulta a generalização dos resultados.
Uma análise publicada em 2022
reúne os melhores estudos e concentra-se nos testes realizados com adultos
saudáveis que não estavam acima do peso.
Novamente, a proteína em pó
realmente fez diferença, trazendo ganhos de massa corporal magra e resistência
da parte inferior do corpo, desde que as pessoas também fizessem exercícios de
resistência.
Houve também um leve efeito
sobre a capacidade das pessoas de praticar halterofilismo, mas não se observou
diferença em outros testes de resistência, como o hand grip, ou fortalecedor de
mãos.
Ou seja, o suplemento de
proteína não é um pó mágico que irá deixar você mais forte de uma hora para
outra. É preciso trabalhar com ele.
Mesmo depois de examinar todos
esses estudos, os autores afirmam que ainda não sabemos com certeza qual é a
quantidade ideal de proteína. Mas é interessante observar que pessoas com mais
de 65 anos de idade não precisam consumir tanto pó para notar a diferença.
Um dos autores dessa análise,
Stuart Philips, passou duas décadas estudando o impacto da alimentação sobre os
nossos músculos.
Em entrevista ao The Food
Programme, da BBC Rádio 4, em 2022, ele resumiu a questão da seguinte forma:
uma pessoa que consome proteína adicional e se exercita duas ou três vezes por
semana terá benefício mínimo. Já outra pessoa que se exercite quatro ou cinco
vezes por semana pode observar um pequeno benefício.
Em outras palavras, se você
não se dedicar muito (como fazem os atletas profissionais, por exemplo), é
pouco provável que o pó faça muita diferença.
Para as pessoas que ainda
querem adotar o caminho dos suplementos, mesmo sabendo que os benefícios são pequenos,
costuma-se discutir quando é melhor ingeri-los – antes de ir para a academia ou
mais tarde, quando os seus músculos estão se recuperando.
Existem também discussões
sobre o tipo de proteína que se deve ingerir. Alguns juram que é a proteína do
soro, outros de fontes vegetais.
Na meta-análise de 2018
mencionada acima, que incluiu 49 estudos, a conclusão foi que, na verdade, nem
o momento, nem o tipo da proteína, exercem influência sobre os resultados.
Os riscos
É claro que, se você quiser
consumir proteína em pó, é preciso ter certeza de que ela não irá causar nenhum
prejuízo.
Os ingredientes variam entre
os diferentes produtos. Alguns pós, além de proteína, contêm açúcares,
adoçantes e vitaminas. E altas quantidades de açúcar podem causar picos do
nível de açúcar no sangue e, é claro, ganho de peso.
Ainda mais preocupantes são as
histórias que encontramos online sobre jovens em boa forma física que sofreram
ataques cardíacos na academia – e as discussões se a proteína em pó poderia ter
sido uma das causas.
Em casos individuais como
esses, fica difícil saber quais problemas cardíacos subjacentes poderiam ter as
pessoas afetadas. Por isso, precisamos recorrer novamente às pesquisas.
Existem poucos estudos sobre
este tema. Na verdade, precisamos observar testes com camundongos para
descobrir alguma coisa e, mesmo assim, há muito poucos dados disponíveis.
Mas existe um estudo realizado
em camundongos em 2020, publicado na revista Nature Metabolism. Ele foi
conduzido por pesquisadores da Faculdade de Medicina da Universidade Washington
em Saint Louis, nos Estados Unidos.
Os pesquisadores alimentaram
camundongos com uma dieta com alto teor de gordura para induzir deliberadamente
o acúmulo de placas nas suas artérias. Mas a metade dos camundongos também
recebeu três vezes mais proteínas do que a outra metade.
O grupo com alto teor de
gordura e proteína não ganhou muito peso, mas eles acumularam 30% mais placas
nas suas artérias.
É uma situação preocupante,
mas também é difícil extrapolar os dados obtidos com camundongos em dieta com
alto teor de gordura e grande quantidade de proteína para jovens frequentadores
de academias da espécie humana que acrescentam uma colher de pó a uma bebida.
Este tipo de pesquisa ainda
está nos seus primórdios. Mas é claro que não sabemos quais poderão ser os
impactos de longo prazo para o coração, para os rins ou para qualquer outra
parte do corpo, se adicionarmos grandes quantidades de proteína em pó à
alimentação todos os dias.
Outros benefícios
Algumas pessoas defendem que a
proteína em pó pode trazer outros benefícios à saúde, além dos ganhos
musculares.
Uma meta-análise de nove
exames aleatorizados concluiu que as pessoas que ingeriram proteína em pó
perderam mais peso e melhoraram seus níveis de colesterol e pressão arterial.
Mas os participantes deste estudo eram obesos ou estavam acima do peso. Por
isso, não sabemos se pessoas com peso mais saudável teriam os mesmos
benefícios.
Agnes Fekete, da Universidade
de Reading, no Reino Unido, concluiu que, se a sua pressão sanguínea estivesse
apenas um pouco alta, a proteína de soro adicional poderia reduzi-la. Mas ela
admite que seu estudo é pequeno e envolveu apenas 27 pessoas.
Por outro lado, um novo estudo
que combina os resultados de 31 testes concluiu que pessoas que tomaram
proteína de soro ou de soja atingiram redução de dois marcadores de inflamações
no corpo.
Esta conclusão é interessante
porque pessoas com músculos particularmente fracos devido à idade apresentam
altos níveis de inflamação, o que levanta a possibilidade de haver alguma forma
de tentar evitar isso utilizando proteína em pó.
Mas, para saber com certeza se
a proteína em pó traz benefícios à saúde além dos pequenos efeitos sobre a
massa muscular quando acompanhada de exercícios, precisamos de mais estudos,
conduzidos por períodos de tempo mais longos.
Com mais exames, iremos algum
dia descobrir se os maiores beneficiados pelo consumo de proteína em pó são os
frequentadores de academias ou as pessoas mais idosas, com menos apetite.
Os nutricionistas costumam
enfatizar que o ideal é procurar fazer com que nossa alimentação contenha tudo
o que precisamos antes de buscar os suplementos. Os alimentos não suplementados
parecem ser o melhor para nós, mas ainda não sabemos exatamente por quê.