O Dia Mundial de Ação dos Transtornos Alimentares, comemorado hoje (2), tem como foco este ano o movimento Cuidando de quem cuida. A data foi criada em 2015 pela Academy for Eating Disorders, e seu objetivo principal é promover ações mundiais para conscientizar, sensibilizar e informar a população sobre os problemas relacionados a esses distúrbios.
Em todo o mundo, estima-se
que mais de 70 milhões de pessoas sejam afetadas por alguma forma de transtorno
alimentar, seja anorexia, bulimia, transtorno de compulsão alimentar, entre
outras. O coordenador da Comissão de Transtornos Alimentares da Associação
Brasileira de Psiquiatria (ABP), José Carlos Appolinário, disse que os
transtornos alimentares são doenças mentais diferentes, “porque o limite entre
a doença mental e a doença clínica, às vezes, é muito tênue”.
Pessoas com anorexia
nervosa, por exemplo, podem atingir graus de desnutrição muito grandes, perda
de proteínas, baixa de pressão arterial e de potássio, podem até morrer em
função da desnutrição. As pessoas com bulimia nervosa, com vômitos
autoinduzidos e uso de laxativos e diuréticos, podem causar alterações
hidroeletrolíticas que também podem levar à morte. Essas alterações ocorrem
quando os níveis de hidratação e de eletrólitos corporais, como sódio,
potássio, cálcio, magnésio, entre outros, estão descompensados. “São
transtornos mentais com consequências muito importantes sobre a saúde física
dos indivíduos”.
Multiprofissional
Segundo o médico psiquiatra,
a ABP tem incentivado a divulgação desta data e de todos os tópicos da
campanha. Como associação de psiquiatras e profissionais de saúde mental, a
entidade tem o papel importante de ajudar a população a ter um conhecimento
maior sobre transtornos alimentares. De acordo com ele, isso pode fazer com que
as pessoas tenham um diagnóstico precoce, porque quanto mais cedo é iniciado o
tratamento, melhor é o prognóstico. “Essa conscientização da
população em relação a transtornos alimentares é uma atividade que a ABP
desenvolve, inclusive divulgando o dia mundial e levando informação à
sociedade. Os pais e familiares vão ser muito ajudados nisso para levar mais
precocemente seus filhos, parentes e pessoas conhecidas que tenham esses
problemas a suspeitar antecipadamente da doença”, afirmou.
O tratamento para pessoas
com transtornos alimentares tem que ser multiprofissional. Deve ser conduzido
por um psiquiatra, um psicólogo, um nutricionista e um clínico. “Esses quatro
profissionais têm que atuar conjuntamente. Várias dessas condições vão
necessitar de conhecimentos específicos”, lembrou o especialista, acrescentando
que a anorexia nervosa é considerada a doença de maior mortalidade na
psiquiatria.
Treinamento
A ABP realiza também
treinamentos e programas de desenvolvimento dos próprios psiquiatras, para que
tenham, cada vez mais, melhor capacitação no tratamento da doença. No Brasil, o
maior número de transtornos alimentares inclui bulimia, anorexia nervosa e
compulsão alimentar. Considerando todos os transtornos alimentares,
conjuntamente, há uma prevalência em 3% a 4% da população. José Carlos
Appolinário advertiu, entretanto, que há casos que não são ainda transtornos
propriamente ditos, mas que necessitam acompanhamento e tratamento.
“A gente chama de síndromes
parciais. Você ainda não tem um baixo peso, mas um comportamento alimentar
muito restrito. Está em queda de peso muito acentuada. Ou, então, não tem ainda
uma frequência muito alta, mas já começou a induzir vômitos depois de episódios
de compulsão, ou seja, não tem um diagnóstico completo, mas já necessitaria de
acompanhamento”. De acordo com o médico, se somarmos tudo isso, podem
ser identificadas síndromes parciais.
Diante dessas doenças
complexas, que alteram o comportamento do indivíduo e, geralmente, a partir de
idade muito jovem - em geral, fim da infância ou início da adolescência
- com a pessoa ainda muito ligada aos pais, os familiares
ficam perturbados com todas as modificações, disse o coordenador da
Comissão da ABP, também professor da Universidade Federal do Rio.
Relação familiar
“Isso perturba,
principalmente, uma função de relação familiar, que é a alimentação”, afirma
Apolinário. A pessoa com anorexia nervosa rejeita comida, não senta com a
família para fazer as refeições. Isso mexe com a relação familiar e provoca
sobrecarga em relação à doença e ao tratamento. Por isso, ele sugere que a
família participe do tratamento desde o início das alterações. Também
reforça a importância de se tratar não só os doentes, mas dar apoio e
suporte aos familiares, amigos, companheiros (as), pessoas que estão ajudando a
cuidar de quem está com transtornos alimentares.
Muitas vezes, a pessoa com
esse tipo de distúrbios não aceita que está com a doença e que precisa buscar
tratamento. Por isso, é preciso cuidar também dos cuidadores, que vão precisar
de muito apoio e suporte. O papel do cuidador é de extrema importância no processo
de recuperação dos afetados por transtornos alimentares. A ABP destacou que
para cuidar do outro faz-se necessário o autocuidado.
A associação sugeriu algumas
estratégias simples que podem ajudar na qualidade de vida do cuidador, como
dividir tarefas, dedicar um tempo para si, cuidando da própria saúde física, e
construir uma rede de apoio para que possa pedir ajuda. Segundo a ABP, os
transtornos alimentares, quando tratados precoce e corretamente, têm importante
taxa de recuperação.
Agente de transformação
Para marcar a data, a
Associação Brasileira de Transtornos Alimentares (Astral), que congrega mais de
40 grupos especializados de diversas regiões do país, promove campanha com o
tema Seja um agente de transformação!.
A campanha inclui a
publicação de uma série de vídeos e pequenos informativos para as redes sociais
da entidade, produzidos em colaboração com profissionais de saúde
especializados.
A Astral defende que a
prevenção dos transtornos alimentares se faz estimulando uma alimentação
saudável e adequada, livre da cultura da dieta e da culpa, “um estilo de vida
ativo, sem foco exclusivo no peso corporal, e o incentivo à construção de uma
imagem corporal positiva”.