Benjamin
Franklin viveu entre 1706 e 1790 nos EUA e foi um dos ativos participantes da
independência do seu país. Teria dito que "o trabalho dignifica o
homem", mostrando um significado de virtude e não um desprestígio para o
trabalho. Contraditando-o podemos nos perguntar: “um homem sem trabalho seria
indigno por não poder prestar-se a exploração de alguém?”. A provocação que
fazemos aqui é para compreender que o significado de trabalho ou o direito ao
trabalho como algo digno nem sempre se cumpre na existência humana. Afinal, se
não há trabalho, não há sustento e disso desvelam-se todos os derivados mais
perversos sobre a vida dos homens: fome, miséria, pobreza.
Atualmente,
o desenvolvimento tecnológico tem gerado uma exclusão cada vez maior dos
trabalhadores em vários ramos do trabalho escasseando mais ainda o número de
vagas para mão de obra humana. Sua repercussão mais imediata é a do desemprego
estrutural cada vez mais ampliado. A informalidade se amplia, pois para
sobreviver as pessoas afastadas da oferta de trabalho passam a se tornar
trabalhadores precarizados, ou seja, fazem trabalhos como camelôs, bicos, são
temporários.
A
precarização do trabalho atinge vários setores. Não é específico do mundo da
indústria. Para o capital poder se expandir em forma de lucro o Estado
capitalista é pressionado para mudar as leis trabalhistas. Um dos fenômenos
desse tempo e que faz parte da onda da precarização é a retirada de direitos
dos trabalhadores caracterizando um estado de flexibilização. Isso significa
que a empresa tem a liberdade de desempregar trabalhadores quando as vendas
caem, reduzir horário ou aumentar suas horas, pagar salários baixos, mudar
horários de trabalho conforme a conveniência. Trabalhar em condições que se
apresentam dessa forma envolve uma questão quanto ao comprometimento da saúde
já que o capitalismo atual cobra do trabalhador versatilidade para justificar
os interesses dos empregadores.
Melhor
exemplo desse estado de coisas está nos trabalhadores ligados a empresa Uber,
multinacional estadunidense fundada por Travis Kalanick e Garret Camp. A partir
de um aplicativo instalado em celulares smartphones, eles se ligam por meio de
um GPS aos clientes e oferecem seus serviços de transporte. Por incrível que
pareça neste caso, o único vínculo existente entre motoristas e a empresa é o
seu cadastro junto ao aplicativo, o restante das relações trabalhistas, como
direitos e benefícios, é inexistente. O tempo de trabalho dispendido utilizando
carro próprio do motorista, segundo reportagem do site uol de 2 de outubro de
2021, gira em torno de 60h, por semana para conseguir juntar em torno de 3.000
reais ao mês. Um dos entrevistados disse que conseguiu lucrar em torno de 3059
reais, mas teve que desembolsar 2200 em gasolina! Daniel Paiva, 23 anos, relata
na reportagem: “Já estou saturado, porque cansa muito e eu não consigo manter a
cabeça no lugar. Tenho que fugir disso...”.
Por onde
anda a dignificação do trabalho para o homem? Mesmo sabendo dessas condições
modernas da existência humana cabe considerar um fato: as formas de exploração
ainda dão lucro aquele que explora. O maior desafio desses tempos é dar
humanidade ao trabalho e sentido ao homem que se encontra desse modo livre,
frouxo, volátil, exausto.