VOCÊ TEM ORGULHO DO QUE?
Dia 08/01/2021, foi o dia que saí do armário para minha mãe, era de manhã, umas 10 horas. Ali eu nascia de novo. Eu sabia que não seria muito fácil, afinal venho de uma família conservadora, religiosa e, extremamente ortodoxa, afinal, minha mãe é de outra época, época esta, que “estas coisas não eram comum” (uhum, finjo que acredito). Não seria fácil, pois sei que não era o que ela gostaria para mim, e realmente não foi, porém eu precisava. EU PRECISAVA TIRAR O PESO DE ME ESCONDER DOS OMBROS. Mas antes que eu continue minha história, voltemos um pouquinho ao título, “VOCÊ TEM ORGULHO DO QUE?”, este texto talvez seja dirigido mais à comunidade LGBTQ+, mas você que esteja fora dela, te convido a fazer algo à sair de sua zona de conforto, e refletir, sobre o nosso orgulho. Okay? Por favor, não se aborreça e não saia antes de terminar de ler tudinho, leia de coração leve, para que no final, o meu objetivo venha ser alcançado, incutir em ti, o respeito acima de tudo, bom, agora sim, vamos continuar.
Há 24 anos e meio atrás, nascia eu, não fui planejada, mas fui muito amada. E tive uma infância feliz, embora eu nunca fui capaz de compreender o que eu sentia, algo me fazia diferente. Eu não sentia atração pelos meninos, somente àqueles difíceis de se alcançar, como Troy Bolton de High School Musical, ou Edward Cullen, da Saga Crepúsculo. Sempre tive crush nos meninos que sequer sabiam de mim, e se estes dissessem não, no fundo EU FICAVA EXTREMAMENTE ALIVIADA, e quando diziam sim, fazia de tudo para que não desse certo.
Mas nos últimos 4 anos, eu me sentia uma fraude, como um perfume falsificado, pois já não sabia mais quem era. Afinal, quem eu era? Para os que estão de fora, e não sabem, o questionamento da sexualidade te estremece por inteiro, afinal é grande parte do que você é. No começo deste ano, enquanto eu me preparava para o exame da Ordem, eu decidi contar aos que ainda não sabiam, era ávida a necessidade de dizer ao mundo quem eu era. Afinal, refletia, e se eu bem suceder na prova? Quem irão parabenizar? Não será a verdadeira eu. Fazer isso, foi como literalmente tirar um peso enorme. Mas após fazê-lo, eu tive medo, afinal, agora era renascia, e viver não é fácil, muito menos, recomeçar a viver. É doloroso, mas valeu a pena. (Mas fica aqui um adendo, estamos constantemente renascendo, abracemos então enquanto antes esta verdade.)
Eu sempre começo meus textos com alguma indagação, e na maioria das vezes não dou respostas, mas neste, posso responder por mim, eu tenho orgulho de MIM, do meu verdadeiro EU. Das risadas que ficaram leve, da minha companhia que ficou agradável, e da pessoa amorosa e que tenho muito amor para dar. Me sinto verdadeira. E posso dizer a vocês, prazer me chamo Eloiza, pois assim me sinto, completa, meu sorriso é natural e leve, não preciso me esconder mais. Confesso que as vezes dói, é como naquele momento que você decide cortar o cabelo e vê ele todo no chão e você pensa “oh não, não deveria cortado”, mas naquele momento não é o arrependimento de um novo corte, de se mostrar com uma nova identidade ao mundo, e sim o medo do novo, o novo assusta, tira o chão dos nossos pés, nossa segurança. Mas agora posso gritar ao mundo, “EU SEI QUEM EU SOU, EU SEI QUEM EU SOU”, e eu sou mulher, negra e lésbica, eu sou a figura da resistência. Meu amor, meu amar, vai incomodar, pois também é a figura de resistência, olhe em volta, o preconceito nos cerca como leão, pronto para nos devorar, mas te digo algo, estes, são aqueles, que não saíram da zona de conforto, que com o medo do novo e diferente, optam pela opressão.
Por isso, mais uma vez pergunto, você tem orgulho do que? Pois você será a resistência, será o tremor na terra daqueles que irão tentar esconder teu amor. Mas sabe o que mais incomoda? Não é a bandeira LGBTQ+, não são dois homens de mãos dadas, ou duas mulheres se beijando, ou encontrar na rua uma mulher ou homem trans, o que incomoda, é que quando saímos do armário, descobrimos em nós uma luz, uma força, que transcende nossa pele, e cega aqueles que nos enxergam.
Não quero fazer deste texto reflexivo, um cheio de estatísticas, nós já sabemos que somos um dos países que mais mata pessoas LGBTQ+, não farei isso. Pelo contrário, trarei a você uma reflexão (hahahahah, achou que não teria desta vez né?), nosso amor é existência e nossa existência é resistência, por isso, AME, seja quem for, eu sei que para muitos, isso significa desiquilibrar toda uma cadeia familiar religiosa ortodoxa, isso pode significar ficar sem lar, ou sem emprego, por isso não serei leviana em dizer, faça mesmo assim. Não. ANTES DE TUDO, SE ASSUMA PARA VOCÊ, resista,mas não desista do que te faz feliz, do que te fez você. Acredito que o ato de sair do armário, além de constante, é contínuo e, ou melhor, em primeiro lugar, é sobre ficarmos de frente ao espelho, e olharmos para nós mesmos, desnudos e vermos, e descobrirmos e verdadeiramente enxergarmos quem somos.
Por isso, aos da comunidade, sim, celebrem o orgulho, que vai além de usar uma bandeira ou totens coloridos, mas está no ORGULHO EM RESISTIR E CONTINUAR EXISTINDO, estar em dizer ao mundo através do nosso amor, que não vão nos matar, e mesmo que tentem, sempre clamaremos pelos que se foram, e anós que ficarmos, nos caberá a luta pelo existir, e nunca esquecermos, que é justa, toda forma de amor.