A presença de militares na gestão de escolas públicas no Brasil tem chamado a atenção de organismos internacionais. Em relatórios recentes, especialistas ligados à Organização das Nações Unidas (ONU) expressaram preocupação com a expansão do modelo de escolas cívico-militares, principalmente em relação ao respeito aos direitos humanos, à diversidade e à autonomia pedagógica.

O alerta foi feito por relatores da ONU que acompanham temas como o direito à educação, liberdade de expressão e militarização das sociedades. Segundo os especialistas, embora a busca por melhoria na qualidade do ensino seja legítima, o uso de práticas militares em ambientes escolares pode ferir princípios fundamentais da educação pública, laica, inclusiva e democrática.

Preocupações destacadas pela ONU

Entre os principais pontos de atenção levantados pela ONU, estão:

Militarização do ambiente escolar: A presença de agentes militares na rotina de crianças e adolescentes pode gerar um clima de controle excessivo, inibindo a liberdade de expressão e o pensamento crítico, pilares defendidos pelas diretrizes internacionais de educação.

Ausência de consulta pública: Muitas escolas foram transformadas em cívico-militares sem um amplo processo de escuta da comunidade escolar, o que contraria os princípios de gestão democrática da educação, previstos na própria Constituição Brasileira e nos acordos firmados com organismos internacionais.

Potencial exclusão de grupos vulneráveis: A disciplina rígida e os códigos de conduta podem afetar de forma negativa estudantes com deficiência, identidades de gênero diversas ou em situações de vulnerabilidade social, comprometendo o direito à educação igualitária e inclusiva.

Diretrizes internacionais x realidade local

A ONU defende que a educação deve ser um espaço de construção da paz, promoção dos direitos humanos e valorização da diversidade. Em diversos documentos, como a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, a organização incentiva modelos educacionais que combatam a desigualdade, respeitem a pluralidade cultural e promovam a equidade.

A existência de escolas cívico-militares, por si só, não fere nenhuma norma internacional. No entanto, o problema está na forma como o modelo é implementado e nas consequências que ele pode trazer para o ambiente escolar, caso não haja uma política clara de proteção aos direitos das crianças e adolescentes.

E agora?

Com o fim do programa federal das escolas cívico-militares em 2023, vários estados continuam com suas próprias iniciativas. O debate segue dividido entre quem defende mais disciplina e ordem, e quem propõe uma escola mais democrática e voltada à formação cidadã.

Diante das observações da ONU, educadores, gestores e famílias são chamados a refletir: qual o verdadeiro papel da escola pública no Brasil? E como garantir que toda criança, de todas as origens, tenha acesso a uma educação que a prepare para ser livre, crítica e protagonista de seu próprio futuro?